Na terça, 30/01, houve mais uma edição da série de seminários “Neoindustrialização em novas bases e apoio à inovação nas empresas”, coordenada por Fernando Peregrino, chefe de Gabinete da Finep, e que ajudará a embasar a próxima Conferência Nacional de CT&I, em junho. Os temas estão na pauta da Nova Política Industrial, lançada no dia 22/1 pelo presidente Lula, e que envolve cerca de R$ 300 bi, a participação de 21 ministérios, e uma nova relação entre governo e setor produtivo. A Finep participa com R$ 41 bi.
Na mesa da manhã, Ronaldo Carmona (ESG), William Rospendowski (Finep), Perpetua Almeida (ABDI) e Fabio Borges (LNCC) debateram a Base Industrial de Defesa e Segurança. A diretora de administração, Janaina Prevot, saudou os presentes: "a Finep já está na nova indústria brasileira, como pudemos ver no artigo publicado na Folha de São Paulo pelo presidente Celso Pansera. Seguimos juntos com mais recursos e melhores taxas", comemorou.
De acordo com Perpetua, é importante colocar a indústria de defesa no centro dos debates de Neoindustrialização. Além disso, promovermos o debate da indústria sustentável.
“Defesa é pilar básico de qualquer país central e impacta outros setores, quando se tem protagonismo mundial. Não falo arma, revólver. Falo de tecnologias estratégicas de soberania, como satélites que monitorem florestas e mares”, destacou Perpetua, com amplo histórico de contribuições como parlamentar.
Para ela, há muitos gargalos a serem resolvidos: “não existe soberania sem o olhar de governo e sem olhar todas as áreas. É preciso que defesa seja visto não apenas como armamentismo, mas a partir da visão de tema estratégico. Não podemos perder tecnologias críticas nossas. Como falar de soberania se um avião nosso depende do GPS de outro país?”, questionou, complementando: “o Brasil precisa do seu próprio geoposicionamento”.
Ronaldo Carmona, assessor da diretoria de Inovação da Finep e professor da ESG, falou sobre os porquês de o tema do seminário ser prioritário nas bases da nova indústria. “O ‘grosso’ das tecnologias de um Iphone, por exemplo, tem a ver com tecnologias de defesa. Ela é fundamental porque lida com temas de fronteira tecnológica”, esclareceu.
Para ele, o próprio mundo desenvolvido mostra que os países que enfatizam investimentos em defesa são lideranças globais, apontam os principais debates e impulsionam economia e desenvolvimento social a partir do setor.
O baixo orçamento do Ministério da Defesa preocupa o especialista, que seguiu sua fala comemorando o olhar atento da Finep para o tema: “contratamos cerca de R$ 1 bi no ano passado - um apoio correto e importante para o país”, destacou, relembrando os recursos disponíveis nos editais do Finep Mais Inovação, recém-publicados.
Para ele, a financiadora pode dar uma contribuição ainda maior para o desenvolvimento da Base Industrial de Defesa. William Rospendowski, superintendente da Finep, diz que - apesar de um hiato, o histórico de financiamento nos últimos 20 anos é bastante relevante. Para ele, a retomada recente de aplicação recursos é fundamental e “o setor está preparado para o novo momento do FNDCT, com recursos descontingenciados”.
O executivo destacou a importância dos recursos de subvenção econômica para projetos estruturantes, políticas públicas conjuntas e de um amplo debate sobre garantias e compras públicas, dentre outros apontamentos. “Estamos num momento positivo, o crédito está barato e há ótimos projetos”, completou.
Fábio Borges, do LNCC, destacou a importância do investimento em computação quântica. Comparou, ainda, detalhes sobre armas inteligentes (muitas vezes mais baratas) que destroem os tanques de guerra (bem mais caros), de modo a ilustrar o histórico equívoco na construção de políticas públicas.
“O Brasil precisa fazer escolhas corretas, na fronteira crítica, investir em chips, em financiamento de precisão. A Inteligência Artificial é um dos caminhos - e ainda pouco utilizado”, frisou.
E provocou: como colocar um helicóptero para procurar um outro helicóptero que tenha caído na selva, se alguns drones fazem de modo mais barato e preciso o mesmo serviço?”, questionou, sinalizando a hora de uma guinada em prioridades, alocação de recursos e priorização da soberania via tecnologia.