Na terça, 23/01, houve mais uma edição da série de seminários “Neoindustrialização em novas bases e apoio à inovação nas empresas”, coordenada por Fernando Peregrino, chefe de Gabinete da Finep, e que ajudará a embasar a próxima Conferência Nacional de CT&I. Os tema da vez (IA e Bioeconomia) estão na pauta da Nova Política Industrial, lançada no dia 22/1 pelo presidente Lula, e que envolve cerca de R$ 300 bi, a participação de 21 ministérios, e uma nova relação entre governo e setor produtivo. A Finep participa com R$ 41 bi.
Na parte da tarde, o tema da bioeconomia começou a ser destrinchado pelo ex-governador do DF Rodrigo Rollemberg, secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindustria do MDIC, que elogiou bastante a inclusão da economia verde e da transição e energética nas pautas prioritárias da Fazenda (sob a liderança do ministro Fernando Haddad) e do próprio MDIC (sob a liderança de Geraldo Alckmin, também vice-presidente). “Avançamos na regulamentação do mercado de carbono, o que poderá movimentar 120 bi de dólares até 2030”, sinalizou.
De acordo com o secretário, há um potencial brasileiro bem evidente no horizonte: combustível sustentável de aviação. Já em 2027, os países usarão 4,5 bi litros de combustível sustentável, e o país tem grande oportunidade de se tornar liderança de uma economia de baixo carbono. “Descarbonização de processos industriais e protagonismo numa espécie de desenvolvimento à brasileira são nossos horizontes e vocação”. Concluiu: “temos diversidade de biomassa, mas ainda precisamos avançar em biomanufatura e sócio bioeconomia”, ressaltou.
Esta última significa saneamento básico, mobilidade urbana e conectividade, o conjunto de infraestrutura que impulsiona a cadeia produtiva focada em sustentabilidade. “Urge que mensuremos nossas emissões de modo reconhecido internacionalmente e também criemos um centro depositário de microorganismos com força lá fora”, finalizou.
Ana Euler, diretora da Embrapa, afirmou que uma das prioridades da empresa é a Transição Energética e Revolução Sustentável. “Como discussões conceituais em curso, citamos a bioeconomia biotecnológica, bioeconomia de biorrecursos e a bieconomia bioecológica. É um fato que essas três vertentes apontam a urgência de combater desigualdades, cooperação geral, fomento a ecossistemas de inovação, integração de bases de dados com tratamento que pavimente políticas públicas, dentre outros desafios”, contou.
A Amazônia é entendida como protagonista no bojo da revolução da economia verde, “as diferentes Amazônias dentro da Amazônia demandam estratégias que alcancem as populações com inclusão sócio-produtiva a partir do desenvolvimento sustentável”, afirmou
De acordo com Euler, os principais desafios do chamado “Portfólio Amazônia” são agregar valor a produtos da biodiversidade e apoiar a estruturação de cadeias de valor da biodiversidade, “além de todos que envolvem uma relação econômica focada no desenvolvimento tecnológico e social respeitoso com a floresta. Estamos fazendo apostas baseadas em nossas vocações ligadas à terra, e precisamos sempre do apoio público”, completou.
Henrique Pereira (diretor do INPA) reiterou que o Brasil tem o maior potencial de biomassa do mundo, mas que a bioeconomia ainda é tratada como periférica e um conceito em construção. “Louvo que o governo tenha inserido o tema na pauta da Nova Política Industria, e porque é preciso começar”
Segundo Pereira, a bioeconomia da sociobiodiversidade começa - a priori - no olhar sobre os povos originários e em como é necessária a estruturação de cadeias produtivas que gerem valor coletivo e social a partir da terra, sem destrui-la. “Isto não significa voltar ao passado, mas vislumbrar o futuro. E, sobretudo, olhando de modo apurado as características locais e a proteção da floresta”, decretou.
Citou, ainda, o exemplo do óleo do pau-rosa - esta, uma espécie arbórea, cujo óleo é usado na indústria de perfumaria fina. Antes, a árvore era derrubada para a extração do derivado. Agora, o manejo correto do pau-rosa permite cadeias de valor estruturadas sobre florestas de pé, o desafio imperativo, na visão do pesquisador, para a construção do que é bioeconomia baseada em sócio biodiversidade.
Paulo Renato Cabral, do Sebrae, destacou que o olhar da instituição para fomentar inovação é prioritário na relação com as 20 milhões de empresas (CNPJs) no Brasil. "Cerca de 80 milhões de brasileiros vivem do empreendedorismo", disse.
De acordo com o executivo, há três anos, foi criado o Programa Inova Biomas, foco direto do Sebrae em iniciativas a partir da biodiversidade brasileira. Já o chamamento Inova Amazônia promove negócios inovadores e soluções sustentáveis da Amazônia para o mundo.
“Não é fácil encontrar investimento para empresas dessa natureza e fazer decolar uma ideia promissora. É preciso fomentar o ecossistema a partir do olhar cuidadoso do governo”, finalizou, convidando a todos para o Amazonia Summit, maior evento ligado a negócios com foco em biodiversidade.