Helena Nader, presidente da SBPC (à esquerda), e Jaime Arturo Ramírez, reitor da UFMG (à direita),
entregam placa a Marcos Cintra, presidente da Finep, em homenagem aos 50 anos da financiadora
O passado e o futuro da Finep se encontraram nesta segunda, 17, na sessão especial em homenagem ao cinquentenário da financiadora, realizada durante a 69ª Reunião Anual da SBPC, na Universidade Federal de Minas Gerais. O resgate da memória e o reconhecimento do papel da agência de fomento no desenvolvimento econômico e social do Brasil desde 1967 dividiram espaço com os desafios atuais do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, do qual a Finep é uma das protagonistas: reverter o contingenciamento de recursos à área e sensibilizar a sociedade brasileira sobre sua importância. Veja álbum de fotos no Facebook da Finep.
“Devemos firmar um pacto com a sociedade em prol de C,T&I. O cidadão comum, que convive diariamente com os benefícios da ciência e da tecnologia, precisa entender que o progresso econômico está diretamente ligado à transformação do conhecimento em valor, ou seja, à inovação”, ressaltou o presidente da Finep, Marcos Cintra. “A classe política apenas reflete essa falta de reconhecimento”, completou.
A sessão ocorreu menos de uma semana após a reunião de representantes da academia e da indústria no Congresso Nacional para alertar o governo sobre a atual situação de privação enfrentada pelos atores e instituições de C,T&I brasileiros. Para Helena Nader, presidente da SBPC, o caminho dos cortes orçamentários é o do não desenvolvimento. “Creio que a passagem dos 50 anos da Finep seja um momento oportuno para o Ministério do Planejamento e o Governo Federal apurarem o olhar sobre a empresa e terem a real compreensão do seu papel para o desenvolvimento do País”, enfatizou.
A professora titular da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) elencou algumas importantes contribuições da financiadora ao Brasil, como o apoio à formação de recursos humanos e à aquisição da infraestrutura responsável pela modernização da meteorologia nacional, por meio dos supercomputadores; o apoio à entrada da Embrapa no promissor campo da informática na agricultura, em meados da década de 1980, fator-chave para o sucesso da agropecuária brasileira; e o apoio à criação de programas de saúde coletiva, base da formatação do Sistema Único de Saúde.
FNDCT: “espinha dorsal” do Sistema Nacional de C,T&I
Um dos fatores que, segundo Cintra, pode contribuir para a retomada da área é a transformação do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) em Fundo financeiro, como o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e o Fundo Social. Segundo cálculos do economista, se nos últimos dez anos os recursos contingenciados estivessem sido acumulados, o saldo do FNDCT seria de R$ 45 bilhões. Hoje, há pouco mais de R$ 9 bilhões. “Governar é priorizar. O retorno social de investimentos em C,T&I é pelo menos seis vezes superior ao retorno social de qualquer investimento em infraestrutura, por exemplo”, destacou.
Presente à sessão especial, o físico Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), também acredita que os recursos de impostos que alimentam os fundos setoriais devem voltar a ser aplicados para sua finalidade: financiar Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) nas empresas. “Espero que consigamos passar pelo ‘vale da morte’ no financiamento a ciência no Brasil. Mesmo com a atual situação, fico feliz em poder celebrar o sucesso da Finep, símbolo de desenvolvimento do Brasil. Precisamos afirmar e reafirmar a importância da agência para o País”.
Homenagens e reconhecimento ao passado
A noite desta segunda (17) foi marcada por um resgate da trajetória da financiadora, que completa 50 anos no próximo dia 24. Na ocasião, o atual presidente, Marcos Cintra, e os ex-presidentes Gerson Edson Ferreira, João Luiz Coutinho de Faria, Odilon Marcuzzo, Luis Fernandes e Wanderley de Souza receberam da SBPC placas em homenagem a suas atuações à frente da Finep. Além de Helena Nader e Luiz Davidovich, também estiveram presentes à mesa principal da sessão solene o reitor da UFMG, Jaime Arturo Ramírez, e o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Jailson de Andrade.
Presente e passado. Da esquerda para a direita: Marcos Cintra (presidente da Finep), João Luiz Coutinho (ex-presidente da Finep), Gerson Edson Ferreira (ex-presidente da Finep), Ronaldo Camargo (diretor da Finep), Victor Odorcyk (diretor da Finep), Américo Bernardes (diretor de Inclusão Digital do MCTIC), Odilon Marcuzzo (ex-presidente da Finep), Clelio Campolina (ex-ministro do então Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação - atualmente MCTIC), Luis Fernandes (ex-presidente da Finep) e Wanderley de Souza (ex-presidente e, atualmente, diretor da Finep)
O surgimento da principal agência de fomento à inovação no Brasil sucedeu a existência do Finep, o Fundo de Financiamento de Projetos e Programas, criado em março de 1965 pelo governo do general Castelo Branco. O Finep, concebido pelo então ministro do Planejamento Roberto Campos e pelo economista João Paulo dos Reis Veloso, surgiu como instrumento do governo para estimular o desenvolvimento nacional. Dois anos depois, em 1967, quando a necessidade de elaboração de estudos e projetos estava superada, foi criada a Finep, nascida da demanda que se tornou perene no mundo moderno: a necessidade de investimentos em P&D e incremento do nosso desenvolvimento em ciência e tecnologia. Desde então, a financiadora já apoiou aproximadamente 30 mil projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação em universidades, empresas e governos municipais, estaduais e federal, de norte a sul do País.