O professor Virgilio Almeida, da UFMG, palestrou na Finep, na quinta (26/9), sobre a Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, dentro da série de seminários organizados pela presidência da agência. “Vivemos e viveremos em sociedade híbrida”, disse ele, apontando que IA traz novas formas de socialização. “Os sistemas serão mais presentes na vida cotidiana e pessoas interagirão com algoritmos”, destacou.
O Plano brasileiro "IA para o Bem de Todos" teve um longo caminho a partir de debates externos, mirou questões sensíveis, e se funda em cinco eixos: infraestrutura e desenvolvimento de IA; Informação, difusão e capacitação em IA; IA para melhoria do serviço público; IA para inovação empresarial e regulação e governança de IA.
Mas como tudo começa?
Virgilio destacou pensamento de Edward Wilson, de Harvard - “ vivemos emoções da idade da pedra, instituições medievais, e tecnologias como deuses” - explicitando que manipulação e controle autoritário do povo são perigos e preocupação. “E sistemas que possam, no longo prazo, sair do controle humano também acendem sinal vermelho”, alertou.
Michael Sandel, também de Harvard, foi outro lembrado: no futuro, pode haver eliminação de postos, amplificar vieses humanos (como discriminação por cor), perda de privacidade e danos à democracia.
Contexto Brasil para construção do plano
"Nosso país tem dados qualificados (variedade racial, de gênero e social), mercado governamental, facilidade de adoção tecnológica, matrizes energéticas limpas e variadas, predisposição à virada a partir da nova indústria, mercado digital que cresce a dois dígitos e recursos humanos potencialmente. Mas ainda falta preparo", disse o professor.
De acordo com ele, também não tem, ainda, estrutura para avanço de IA (há um espalhamento de questões digitais). Faltam ainda ambiente regulatório, tecnologia e fontes de financiamento para estudo em universidades.
Principais blocos pra crescer:
- Recursos humanos;
- Governança de dados;
- Infraestrutura computacional;
- Governança de plataforma e serviços.
O que fazer?
- Priorização de inclusão geral;
- Priorização de setores;
- Regular e pensar em governança geral, com olho em riscos e ações certeiras, com colaboração global.
“O fato é que o Brasil precisa de autonomia. Não podemos depender de deliberações de grande corporações, por isso, a importância de recursos para CTI”, complementou, destacando a colaboração de países com interesses semelhantes em temas como força da democracia e direitos humanos. “Dados de grandes corporações não são abertos, mas a parceria de nações urge ir nesse caminho para estabelecer caminhos positivos para as pessoas”, assinalou.
O professor lembrou que, em dezembro, a ABC publicou o documento “Recomendações para o avanço da Inteligência Artificial no Brasil”. No bojo dos aconselhamentos, havia desenvolvimento de recursos humanos, busca por talentos, foco multidisciplinar, colaboração entre empresas e universidades, regulação, dentre outros.
Para os debates ligados ao G20, IA também está na pauta, gravitando, fundamentalmente, em três eixos:
- IA e desenvolvimento sustentável;
- Força de trabalho (com educação, acesso, investimento);
- Ética e regulação.
Alguns países - notadamente, ainda em desenvolvimento - que tiveram acesso às propostas manifestaram preocupação com o impacto nos empregos e na desigualdade econômica.
“Em resumo, IA tem de contribuir para os objetivos de um desenvolvimento sustentável, com preservação democrática e não uma substituição pura e simples de pessoas, mas sim o atendimento de necessidades humanas com política assertiva e regulação”, finalizou.