Na terça, 23/01, houve mais uma edição da série de seminários “Neoindustrialização em novas bases e apoio à inovação nas empresas”, coordenada por Fernando Peregrino, chefe de Gabinete da Finep, e que ajudará a embasar a próxima Conferência Nacional de CT&I, em junho. Os temas (IA e Bioeconomia) da vez estão na pauta da Nova Política Industrial, lançada no dia 22/1 pelo presidente Lula, e que envolve cerca de R$ 300 bi, a participação de 21 ministérios, e uma nova relação entre governo e setor produtivo. A Finep participa com R$ 41 bi.
Peregrino abriu a primeira mesa (sobre Inteligência Artificial) destacando o momento histórico que vive o País: “o lançamento da Nova Indústria Brasil em meio aos debates da conferência embasa o momento de contato entre diferentes atores do sistema produtivo - governo, indústria, academia - para entregar bases sólidas ao país, com horizontes abertos ao crescimento”, disse.
Secretária-executiva do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, Verena Barros também destacou o compromisso coletivo assumido pelo Governo Lula: “a Nova Política Industrial é algo histórico, surge orientada por missões elencadas como primordiais pelo CNDI. Coloca o segundo setor a serviço da pesquisa e desenvolvimento e sem dúvida vai enobrecer os debates que pavimentam a conferência”, afirmou. O diretor Financeiro, de Crédito e Captação da Finep, Marcio Stefanni, também destacou a Nova Política como marco brasileiro, evidenciando o valor da presença da Financiadora nesse contexto.
O "bonde da História" da Inteligência Artificial
Professor da UFRJ, Edmundo Souza inaugurou tecnicamente a primeira mesa - com observações sobre aquilo que denominou “A Era de IA”. Lembrou as mudanças disruptivas que apontam as LLMs, modelos que preveem o próprio comportamento da linguagem humana e reconfiguram as próximas relações sociais, já que facilitam a vida das pessoas em alguns temas, mas impactam, por exemplo, no aumento de desemprego, trocando em miúdos, a temida substituição do “humano pela máquina”.
“IA transborda por várias áreas, é multidisciplinar, facilita programação, abre frentes para o ensino, traz plataforma ajustável, facilita análises críticas, de dados e, obviamente, acelera a inovação”. Mas alertou: “cuidado grande com dados e códigos-fonte e informações falsas, por exemplo. A criatividade humana é insubstituível”.
Souza alerta para o perigo do aumento da desigualdade nas pesquisas e desenvolvimento. Para ele, temos uma curta janela de oportunidades. “Urge haver recursos humanos suficientes no Brasil (evitar migração de cérebros) e fazer parcerias nas universidades. O Brasil não pode entender IA como oráculo e “caixa preta”, tem de formar massa crítica e pessoas qualificadas. O campo é vasto, apresenta seus percalços, pegadinhas, mas precisa ser encarado”, concluiu.
Virgilio Almeida, que leciona na UFMG, contribuiu com a importância de uma ação mais ativa do Brasil no tema de IA. “O país não pode perder o bonde da História, já que o destino de IA e seu futuro ainda estão em aberto, com mudanças constantes. Há um super potencial de aumento de produtividade, afinal, vai ser criado um ponto de inflexão na economia”.
Almeida destacou que são vitais a formação de recursos humanos e uma política pública efetiva do uso de dados que o país possui - uma massa gigante com baixo tratamento adequado. “Os EUA surfam, por exemplo, em indústria de semicondutores. Aqui no Brasil, estamos deixando passar tal onda”, ressaltou.
Para ele, a Finep pode e deve associar seus financiamentos à formação de recursos humanos. “Importante o investimento acentuado da financiadora em todo o complexo que envolve IA, não apenas no que já está mais badalado, como Chat GPT”, sinalizou.
O professor falou ainda da questão ética ligado à IA, sobretudo, em período de eleições, como as que ocorrerão nos EUA no final do ano. Ou seja, a preocupação com princípios que norteiem o uso de algoritmos sem o disseminar de fake news.
“O Brasil tem características próprias em meio ambiente, educação, agricultura, indústrias, por exemplo. Não se pode fazer a mera substituição do humano, mas um trabalho parceiro de IA com o humano. Importante olhar vocações do Brasil e dos brasileiros”, concluiu.
Professor do Instituto de Informática da UFG, Anderson Soares compartilhou experiências que ajudam o Brasil a ser competitivo em IA no bojo das muitas janelas de oportunidades do que chamou de “A nova revolução industrial”.
“IA é capilar. Podemos usar em quase tudo, um campo vasto, e não é mera intenção. Temos já produtos desenvolvidos para inúmeros casos - de saúde ao entretenimento - são tecnologias para uso geral. A ciência e a academia nunca estiveram tão perto do consumidor final, e porque há apetite do setor industrial para o tema”.
De acordo com ele, como produto das parcerias da UFG com empresas, apesar das dificuldades, o ecossistema brasileiro entrega produtos de IA para milhões de brasileiros. “Estamos longe dos EUA e China, mas temos resultados animadores que apontam um futuro auspicioso”, contou, destacando - assim como também alertaram os outros debatedores - que a formação de recursos humanos precisa estar no centro das preocupações. “A UFG criou o primeiro bacharelado em IA e a turma de abertura está se formando agora”, lembrou.
Fábio Borges, do LNCC, explicou o avanço histórico de IA, abordando detalhes que fazem do atual momento algo que classificou como “revolucionário”. Afinal, áreas onde o intelecto humano é exigido de modo complexo passaram e passam a também ser impactadas.
“Não é um estrondo simples e precisaremos esta atentos a todas as aplicações. O Estado brasileiro tem de se apropriar de IA e ficar atento às aplicações sociais. Já é possível, via IA, fazer matemática nível de Olimpíada sem qualquer participação humana. Olhem o tamanho disso!”. E completou:
“Essa é a área mais importante no atual contexto porque quem perder essa onda… A próxima onda de desenvolvimento tecnológico jamais será atingida. Eu sou matemático e uma máquina resolve (sem alguém como eu) questões que não consigo sequer começar”, concluiu.
Também da UFRJ e representando a ABC, a professora Elisa Reis alertou que “cientistas humanos” e “cientistas exatos” precisam ter cuidado sobre os prós e contras de IA, de modo “a dimensionar de modo realista” as aplicações. Como cientista social, alertou sobre a falta de continuidade de políticas públicas, algo que afeta de modo direto o crescimento brasileiro.
“Falta respaldo da opinião pública no sentido de requisitar a continuação de políticas científicas. É importante dizer para a sociedade o que cientista faz e institucionalizar suas ações”, cobrou, destacando que “ciência tem valor intrínseco e atua por crescimento social”.
Elisa destacou a importância de decodificar IA para a coletividade e individualmente, de forma que as pessoas entendam o atual contexto, aplicações e, obviamente, limites éticos. “Mirar, antes de tudo, no ensino básico aponta o principal caminho para revoluções sociais e tecnológicas efetivas. Precisamos evitar que IA venha para ampliar o ‘apartheid’ de uma nação ainda tão desigual”, finalizou.
Chefe de gabinete, Fernando Peregrino lidera a série de seminários na Finep