Debate sobre a Finep aconteceu nesta quinta-feira, 25/7, na SBPC
A Finep foi tema de mesa sobre sua contribuição histórica e uniu especialistas e um ex-ministro, que também é ex-presidente da agência, em importante debate na quinta (25/07), durante a 71a Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorre em Campo Grande (MS).
O professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Sergio Machado Rezende, que já comandou a companhia e esteve à frente do MCTIC há dez anos - mediador do encontro - não fez rodeios ao falar da missão e trajetória da empresa: "é uma experiência singular de possibilidade de integração de setores acadêmico e produtivo. Não há nada tão ousado no mundo, algo reconhecido pelas maiores autoridades em fomento científico lá fora", disse. A SBPC, por sugestão de Rezende, publicará uma moção em defesa da Finep, no final da reunião deste ano.
O debate contou, ainda, com a presença de André Tortato Rauen (IPEA), Luiz Pinguelli Rosa (UFRJ) e Idenilza Moreira de Miranda (CNI), que se revezeram no microfone para apresentar as qualidades e especificidades da Financiadora de Inovação e Pesquisa. Pinguelli fez uma enfática defesa da Finep, citando a ação de economistas como José Pelúcio Ferreira e João Paulo dos Reis Velloso, que formataram, nos anos 1960, sua atuação: braço financeiro de ações estratégicas de tecnologia.
"O Fundo Nacional do Desenvolvimento Científico-Tecnológico (FNDCT) e os fundos setoriais ajudaram a impulsionar nossa ciência com projetos únicos de soberania nacional" - afirmou - completando que "a Finep formou a visão de ciência, tecnologia e inovação como temas voltados ao bem-estar do brasileiro, com a aplicação e decodificação do que, em tese, é intangível aos olhos do grande público para a vida 'real' das pessoas", explicou.
"Não há país que impulsiona CTI sem agência especializada", decretou a representante da Confederação Nacional da Indústria, Idenilza Miranda. A fala denota que o setor produtivo, ou seja, a representação maior da indústria nacional, tem a visão de que a existência da Finep é fundamental para fazer o Sistema Nacional de C,T&I "rodar" em plenitude: a pesquisa básica em conexão com empresa, alavancando a economia a partir de produção incrementada.
(da esq. p/ a dir.) André Tortato Rauen (IPEA), Sergio Machado Rezende (UFPE),
Idenilza Moreira de Miranda (CNI) e Luiz Pinguelli Rosa (UFRJ)
IPEA prova que Finep é fundamental na alavancagem da inovação
"Não há escolha: o Estado tem que investir em ciência. Empresa privada não toma risco desnecessariamente. É uma evidência concreta dos útimos 200 anos de Capitalismo. E não dá pra pensar em sistema de inovação sem Finep. Ponto final e sem discussão", completou André Rauen, que estudou o comportamento das companhias que receberam crédito da financiadora.
De acordo com o pesquisador, "receber crédito para inovação faz as firmas investirem mais no tema". Os números impressionam: quem acessa o mecanismo de crédito da Finep eleva, em média, em 76% a contratação de pessoal ocupado em áreas científicas e tecnológicas do que companhias similares em termos de setor de atuação, porte e situação econômico-financeira.
Os dados apresentados por Rauen, publicados em recente pesquisa do IPEA, avaliaram a performance de mais de 1.600 empresas, das quais 50% receberam apoio via crédito da Finep no período de 2005 a 2014.
"O Vale do Silício, dos EUA, nos remete diretamente ao Steve Jobs (falecido executivo da Apple) mas saibam: tudo começou mesmo foi com o governo americano. O empresário se compromete a arriscar quando há o governo ao seu lado. No Brasil, este agente governamental qualificado tem nome e sobrenome - Financiadora de Inovação e Pesquisa, Finep".
Ainda de acordo com Rauen, "a sociedade brasileira não tem visão de longo prazo e sempre aponta o imperativo de um 'colateral' ao tomar recursos de uma agência". Mas a realidade brasileira, segundo ele, é que nem sempre a pesquisa básica ou uma pequena empresa tem a possibilidade de apresentar certas garantias ou as contrapartidas legalmente exigidas.
"Não é que a Finep seja uma 'menina má', mas os órgãos de controle brasileiros exigem, por exemplo, análise de risco. Ora, falar de 'análise de risco' para quem financia o risco chega ser engraçado, né? Infelizmente, isto limita o alcance já tão expressivo da Finep. Não existe inovação sem esta empresa vital ao país. Nosso desafio é fazê-la crescer mais", completou.
Ainda na quinta (25), o analista da Finep André Nunes apresentou a conferência "Finep Conecta ligando a academia à empresa", em que apresentou detalhes dos instrumentos reembolsáveis e não-reembolsáveis da financiadora.
André Nunes (Finep) em sua palestra na SBPC