O evento contou com a participação de Sergio Bresser, superintendente da Área de Captação, Crédito e Investimento da Finep
As startups brasileiras ainda têm desafios a vencer, a começar pela própria falta de uma cultura de risco por aqui. Essa é uma das conclusões da pesquisa realizada com 100 companhias e 40 líderes de inovação empresarial apresentada nesta terça no Cubo, espaço de coworking em São Paulo, pela Harvard Business School Angels of Brazil – associação sem fins lucrativos que tem como objetivo promover o empreendedorismo e o investimento em empresas inovadoras. O levantamento tem patrocínio da Finep, que acaba de lançar uma iniciativa importante para o setor, o Finep Startup.
O evento contou com a participação de Sergio Bresser, superintendente da Área de Captação, Crédito e Investimento da Finep, e do analista-especialista no setor, Guilherme Mantovan. O levantamento mostra que a principal motivação para o investimento em corporate ventures é estratégico - 53% das companhias ouvidas apontaram que essa é a razão de estarem se relacionando com startups. Entretanto, 37% das empresas consideram que não há no mercado brasileiro empresas iniciantes interessantes e maduras a ponto de justificar um investimento. Aí estão o desafio e a razão de ser da iniciativa da Finep, que inclusive pretende ampliar a participação de anjos em novos empreendimentos.
“As empresas brasileiras são muito avessas a riscos e querem resultados rápidos, o que não é propriamente possível quando falamos em startups. Além disso, tendem a só considerar o investimento no momento de tração, ou seja, quando essas startups já deixaram de engatinhar e precisam menos das grandes companhias”, explicou Carolina Stocche, da HBS Brazil, que coordenou a pesquisa. Para piorar, 43% dos entrevistados se declaram em momento de retração de investimentos ou de baixo crescimento.
Representantes de AES, Bradesco, O Boticário e Saint-Gobain, empresas com alto engajamento interno, cultura de inovação e relacionamento e fomento de corporate ventures, corroboraram as descobertas do estudo durante debate realizado logo após a divulgação dos dados – o painel foi mediado por Guilherme Mantovan, da Finep.
“Um dos maiores benefícios de se trabalhar com startups é a velocidade dos processos, mas infelizmente ainda encontramos empresas pouco maduras, por exemplo, no quesito precificação”, afirmou Fernanda Angelucci, de O Boticário.
Roger Cerrati, do Bradesco, vê ainda mais obstáculos para uma relação ainda mais estreita entre grandes companhias e corporate ventures. “Em geral o modelo de negócios das startups é falho e a integração com as empresas costuma levar muito mais tempo do que o ideal”, disse.
Para Ricardo Kahn, da AES, há outra questão, comportamental, que ajuda a explicar a timidez das empresas com relação a investimentos em algo mais do que parcerias com negócios ou ideias incipientes. “Tem muito jovem empreendedor arrogante e avesso a negociações. Nem todo mundo é o Steve Jobs, e a maioria desses novos empreendedores vai quebrar a cara. É assim que funciona.”
Finep Startup
A pesquisa de Harvard dialoga diretamente com o programa Finep Startup, cujo primeiro edital foi lançado na segunda (26) também em São Paulo e tem como objetivo alavancar empresas que estejam em fase final de desenvolvimento do produto.
Nesta primeira chamada, a Finep irá apoiar os 25 projetos selecionados com até R$ 1 milhão em compra de ações, transformando a empresa pública numa verdadeira sócia das startups aprovadas no processo seletivo. Além disso, o projeto tem um mecanismo inovador para estimular o empreendedor a buscar investimento privado, impedindo que ele se torne dependente de verbas públicas.
O edital público para inscrição no programa Finep Startup pode ser consultado aqui.