Vista da área onde funciona a incubadora das startaups
na Volks de Dresden (foto: Divulgação Volkswagen)
Grandes ambições nortearam o projeto de uma nova fábrica de automóveis do grupo Volkswagen, em Dresden, no início dos anos 2000. A cidade, capital da Saxônia, na antiga Alemanha Oriental, passava pela bilionária reconstrução de seu centro histórico, arrasado desde a 2ª Guerra, ao mesmo tempo em que buscava-se emparelhar a combalida economia local, ainda sob os efeitos do período pré unificação alemã, aos índices do resto do país. A Volks decidiu fazer ali então uma espetacular estrutura de aço e vidro para produzir carros de luxo, batizada como Gläserne Manufaktur (ou Fábrica Transparente, em português). Quase duas décadas depois, a fábrica segue tão moderna quanto na época de sua inauguração, mas os escritórios e linhas de montagem estão bem diferentes. A montagem de carros imponentes deu lugar à dos E-Golf, versão elétrica do Golf, enquanto nos escritórios toma corpo um movimento que consolidar a Volks como líder em Indústria 4.0 e inovação no ramo de mobilidade e transporte.
O conceito de indústria 4.0 nasceu na Alemanha, em outubro de 2012, durante uma conferência na cidade de Hannover, com um conjunto de propostas preparado por representantes das grandes empresas do país e especialistas do ramo de inovação, ciência e tecnologia das universidades. Conhecido também como a 4ª Revolução Industrial, delineia um cenário produtivo em que o processo de manufatura e concebido a partir de máquinas conectadas em rede, conceitos de inteligência artificial, robótica, modelagem de protótipos em impressão 3D, análise veloz de um grande volume de dados e novas tecnologias aplicadas a materiais e insumos, entre outros recursos. Como parte desse processo, as corporações gigantescas, verticalizadas e com rígidos processos se viram obrigadas a importar conceitos inovadores que normalmente germinam em ambientes completamente diversos, como as pequenas empresas que dão origem não apenas a produtos e serviços inovadores como também a um ambiente de cultura corporativa radicalmente diverso.
Em sua Fábrica Transparente (site em inglês), a Volks abriga desde março seis pequenas empresas recrutadas pela Alemanha. Selecionadas entre candidatos do mundo todo, elas terão até outubro para desenvolver e preparar para o mercado seus produtos em áreas tão diversas como gestão automatizada de tráfego, sinalização e estacionamento em áreas urbanas, recarga de veículos elétricos, módulos de navegação e sistemas de direção autônoma de veículos para utilização entre a linha de montagem e o setor de entrega das fábricas. A multinacional tem a opção de se tornar sócia dos negócios e mantê-los nas instalações. De qualquer forma, um novo grupo de empresas se prepara para mudar para Dresden a partir de novembro, quando se inicia a segunda etapa do programa (leia mais aqui, em inglês e em alemão).
Reunião dos participantes do projeto de startups com executivos da montadora
(foto: Divulgação Volkwagen)
Marco da manufatura de massa, com os conceitos de linha de montagem criado por Henry Ford no inicio do século XX, a industria automobilística é a que melhor simboliza a necessidade de adaptação aos avanços tecnológicos. O aumento no uso dos computadores e sensores eletrônicos nos veículos, a utilização crescente dos recursos da chamada Internet das Coisas, a racionalização e digitalização das relações com fornecedores mudaram definitivamente um cenário em que despontam novidades como os carros movidos a eletricidade e os veículos autônomos (sem motoristas). No Brasil, a industria automobilística corre contra o tempo para se adequar às novidades. No mês passado, foi lançado o programa Rota 2030 com diretrizes para modernizar o setor. “Temos um papel de destaque no universo automobilístico, com pesquisas muito bem sucedidas em áreas como o desenvolvimento dos motores a álcool e o sistema flexível de combustíveis. Agora precisamos avançar nesse novo mundo, com investimentos em inovação que beneficiem toda a cadeia produtiva”, disse Antonio Carlos Botelho Megale, presidente da Associação Nacional dos Veículos Automotores (Anfavea), durante um evento voltado à Internet das Coisas realizado na sede da Finep, no Rio (leia mais a respeito aqui). Um dos dez maiores produtores de veículos do mundo, com 2,5 milhões de unidades de carros, ônibus e caminhões produzidas em suas montadoras, o país na pode ficar de fora dessa transformação radical.