Marcos Cintra, presidente da Finep, e Luiz Davidovich, presidente da ABC, abriram o seminário no dia 28 de agosto
A importância do investimento perene em ciência, tecnologia e inovação (C,T&I) foi uma das bandeiras mais defendidas durante o primeiro dia do Seminário Internacional de Promoção, Desenvolvimento, Apoio e Avaliação da Inovação, promovido pela Finep e pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), na sede da ABC, no Rio. Para o presidente da Finep, Marcos Cintra, a sociedade ainda não percebeu a relevância do setor para o desenvolvimento do País. “As ações em C,T&I precisam de continuidade”, resumiu Cintra, que participou da abertura do seminário ao lado do presidente da ABC, Luiz Davidovich, e de Marcelo Morales, diretor de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
De acordo com Davidovich, investir no setor pode ser apontado como um caminho sustentável para sair da crise. “Os dispêndios do Governo com ciência e tecnologia não devem ser encarados como um gasto, mas, sim, como um investimento”, afirmou o presidente da ABC, ressaltando que a cada dólar investido em C,T&I o retorno pode chegar a US$ 7. Para ele, “o Brasil está hoje na contramão das principais nações”.
Um exemplo apontado pela mesa foi o desenvolvimento da exploração e produção do pré-sal no País, que atualmente responde por mais da metade da produção brasileira de petróleo. “Há alguns anos, essa era tida como uma missão quase impossível e, graças aos laboratórios nacionais, como os da Petrobras, que trabalharam em novas tecnologias para extração de petróleo nesse tipo de campo, foi possível chegar onde estamos hoje”, destacou Davidovich.
Para Morales, a contribuição do setor para com o País vai além da economia. “As ações relacionadas à ciência, tecnologia e inovação, sem dúvida, contribuem também para o desenvolvimento social”, disse o diretor do CNPq.
Políticas de avaliação
Ainda em relação aos investimentos do Brasil em C,T&I, Marcos Cintra destacou a perda de participação do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) no orçamento do Governo. Segundo Cintra, o percentual, que já alcançou o patamar de 3,2% em 2010, apresentou queda brusca a partir de 2013 (2,7%), chegando a cerca de 1% em 2017. Como uma das alternativas, o presidente da Finep propôs a adoção do chamado orçamento base zero. “Com esse modelo, seria possível avaliar o custo-benefício de todas as ações e atividades, partindo-se de uma base zero, não fazendo do orçamento uma mera reprodução anterior”, pontuou.
A necessidade de utilização de políticas de avaliação foi outro ponto debatido no seminário, sobretudo nos painéis subsequentes à abertura do evento. Moderado por Carlos Alberto Aragão, consultor técnico do Núcleo da Agência Naval de Segurança Nuclear e Qualidade da Marinha do Brasil, o primeiro painel do evento debateu as novas perspectivas das políticas de ciência, tecnologia e inovação e contou com a participação de James Kurose, professor da Faculdade de Informação e Ciência da Computação da Universidade de Massachusetts Amherst (EUA), e Fred Gault, professor do Instituto Maastricht de Pesquisa Econômica e Social e Inovação e Tecnologia (UNU-MERIT).
A visão da academia sobre as políticas de C,T&I teve debate liderado pelo diretor de Inovação II da Finep, Victor Odorcyk, e teve a participação de Helena Lastres, professora do Centro de Altos Estudos Brasil Século XXI e do Programa de Pós-graduação do Instituto de Economia da UFRJ, e de Sergio Salles-Filho, professor do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências da Unicamp e coordenador de Avaliação de Programas da Fapesp.
Já a perspectiva das agências de fomento foi debatida em dois painéis: o primeiro, presidido por Rogério Medeiros, superintendente de Planejamento da Finep, contou com a participação de Rune Andersen, cônsul comercial da Noruega e conselheiro de Ciência e Tecnologia da Agência de Inovação da Noruega (Innovation Norway), e Elisa Hernandez, da Agência Nacional de Investigação e Inovação (ANII), do Uruguai. Do segundo, moderado pelo secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTIC, Álvaro Prata, participaram Andres Ubierna, chefe de Estudos e Comunicações do Centro para o Desenvolvimento Tecnológico e Industrial (CDTI), e Jong-ouk Youn, diretor do Ministério de Políticas de Produção e Inovação da Administração de Pequenos e Médios Negócios (SMBA, na sigla em inglês), da Coreia do Sul.
Álvaro Prata, do MCTIC, chamou atenção para o fato de os investimentos públicos em inovação feitos pela Coreia apresentarem números próximos aos brasileiros (0,9% do PIB contra 0,7%, proporcionalmente). “A Coreia é o país que mais investe em pesquisa e desenvolvimento – tanto no setor privado quanto no setor público. Isso nos mostra que temos muitos a crescer. O nosso maior desafio é conseguir fazer com que o setor público alavanque o investimento no setor privado”, concluiu.
Veja também como foi o segundo e último dia do Seminário.