Márcio Girão, diretor de Inovação da Finep (foto: Pedro Machado)
Apesar de ser a sexta maior economia do Brasil, Santa Catarina é o segundo Estado com o maior volume de operações de crédito com a Finep. Nos últimos 10 anos, a Finep direcionou R$ 500 milhões em recursos para projetos de inovação catarinenses, revela o diretor de Inovação da entidade, Márcio Girão. De passagem por Blumenau, o dirigente participou ontem à noite de um jantar alusivo aos 30 anos do Sindicato das Empresas de Processamento de Dados, Software e Serviços Técnicos de Informática do Estado de Santa Catarina. Confira trechos da entrevista a seguir:
JC: Qual a posição de Santa Catarina no cenário de inovação no país?
Girão: Santa Catarina, apesar de não ser o segundo maior PIB do Brasil, é o segundo Estado que mais faz operações de crédito com a Finep. Isso é um indicador importante porque nossas operações têm como obrigação o processo inovador dentro das empresas, aquela inovação que gera riqueza. O fato de ser o segundo Estado, perdendo apenas para São Paulo, mostra que Santa Catarina tem hoje um movimento importante no processo de inovação no país.
JC: A que se deve o volume tão expressivo de operações no Estado?
Girão: Pela minha experiência, há dois fatores muito importantes, que são condições necessárias para o processo inovador: formação em base tecnológica nas escolas e universidades e capacidade empreendedora. Santa Catarina, hoje, promove essas duas coisas muito bem. O Estado tem incubadoras e institutos de ciência e tecnologia muito importantes e universidades focadas na formação tecnológica, mesmo as tecnologias aplicadas às culturas, à economia criativa, às engenharias. É isso que gera o processo inovador. Existe uma outra condição necessária que é o investimento dos governos. Os governos precisam entender que ciência e tecnologia são uma parte tão ou mais importante que a educação. É através da ciência e da tecnologia que se gera riqueza para poder gerar educação decente no país. A nossa sociedade não é muito acostumada com a cultura da inovação, por isso esse tema não é tão cobrado. Santa Catarina é diferenciada neste sentido. Você anda em Blumenau e respira tecnologia. Eu tenho um amigo, o Carlos Pereira (empresário local), que diz que aqui tem mais empresas de informática do que padarias. Essa cultura é importante.
JC: Quais são os critérios que a Finep leva em conta ao avaliar um projeto e decidir por um financiamento?
Girão: O critério básico é projeto inovador. Esse projeto pode ser para a própria empresa, que desenvolve um novo processo ou uma tecnologia a partir de senso de pesquisa interna ou em associação com institutos de ciência e tecnologia, ou inovações originais, aquelas que geram mais disrupção e são mais arriscadas. Quanto maior o risco, melhor, mais bem avaliada é a empresa, porque a inovação é intrinsecamente associada ao risco tecnológico.
JC: A Finep tem trabalhado com algum setor específico ou as operações valem para qualquer segmento?
Girão:Vale para qualquer segmento. O processo é absolutamente isonômico. É logico que dentro da Finep alguns projetos merecem ou vão merecer cuidados e direcionamentos especiais em chamadas para subvenção. Cito como exemplo a estratégia de defesa, que é um assunto muito importante para o país. A recente onda de revolução tecnológica, que a gente chama aqui no Brasil de manufatura avançada, também está merecendo um cuidado especial. Na área espacial, até por conta da importação dos caças da Suécia, estamos fazendo projetos especiais de transferência de tecnologia. Tem também a área de petróleo e assim por diante. Ou seja, há vocações que o Brasil já tem por força de sua política industrial, e que a Finep busca privilegiar de alguma forma.