Os fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais poderão ganhar um novo aliado em suas sessões. Além de fitas, bolas e elásticos, um recurso mais lúdico, mas não menos funcional, promete dar fim ao caráter repetitivo das terapias e auxiliar o tratamento de pessoas com dificuldades motoras. Criado especialmente para assistir o trabalho desses profissionais, o jogo “Vale das Maçãs”, elaborado para Kinect, deve chegar ao mercado ainda este ano. Classificado como serious game, o produto contou com o apoio de R$ 252 mil da Finep.
Michell Angelo Santos Lima, professor do Departamento de Artes Visuais e Design da Universidade Federal de Sergipe, foi o idealizador do projeto. O objetivo inicial era vencer a resistência às terapias tradicionais apresentada pelo seu sobrinho, que nasceu com dificuldades motoras. Para criar o game, o designer contou com a ajuda do empresário Renan Franca, sócio-fundador da Eurekamob, empresa especializada no desenvolvimento de produtos virtuais interativos. “Sou um entusiasta da área de tecnologia. Topei imediatamente”, lembra Franca, bacharel em Ciência da Computação. Com a parceria concretizada, eles inscreveram o projeto no edital de Subvenção Econômica à Inovação nas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte Sergipanas (Tecnova/SE), iniciativa da Finep em parceria com a Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (Fapitec/SE).
O jogo foi produzido exclusivamente para computadores com sistema operacional Windows. Às máquinas, será conectado o Kinect, sensor de movimentos criado inicialmente para os videogames XBox 360 e XBox One. Desde 2012, o sensor também pode ser usado com PCs, o que dispensa o investimento nos videogames. Com o dispositivo, a equipe de desenvolvimento quer levar o ambiente virtual e interativo dos jogos para as sessões de fisioterapia e terapia ocupacional. Todos os movimentos do paciente serão capturados, reconhecidos e enviados para um Sistema de Acompanhamento da Evolução do Paciente. Com esses dados, serão gerados gráficos e informações a partir dos quais será possível acompanhar o progresso do tratamento. “Ao conseguir mostrar claramente o avanço ao paciente, o fisioterapeuta também terá seu trabalho valorizado”, ressalta o empresário. O game, no entanto, não substituirá o profissional – servirá, sim, como auxílio para as sessões. “A vantagem é que os pacientes poderão dar continuidade ao tratamento em suas próprias casas”, explica Franca.
O jogo “Vale das Maçãs” se enquadra na categoria serious game, ou seja, seu propósito não é apenas divertir, mas também passar algum conteúdo “sério” ao jogador. O game será composto por seis temas diferentes (minijogos), com especificidades que atendem a demandas distintas trabalhadas pelos profissionais da fisioterapia e da terapia ocupacional durante as consultas. Num deles, denominado “O Vale”, o paciente desbravará o ambiente em cima de uma prancha de surfe. Os outros cinco minijogos são “A Estrada”, “A Fazenda”, “O Circo”, “O Lago” e “A Ponte”. “O objetivo foi desenvolver um produto realmente funcional, baseado nas demandas dos profissionais”, diz o empresário. Para isso, foi montada uma equipe de pesquisa e desenvolvimento multidisciplinar, formada por designers e profissionais das áreas de fisioterapia, estudo cognitivo e computação.
Apesar de não ter concorrência direta, videogames com detectores de movimento são, muitas vezes, adaptados pelos profissionais durante as sessões. O Kinect, interface escolhida pela equipe, se direncia por ser classificado como um dispositivo Natural User Interface, ou seja, o paciente não precisa ter nada acoplado ao corpo nem segurar nenhum objeto para utilizá-lo, apenas realizar movimentos que serão capturados e reconhecidos pelo sensor. “Estamos proporcionando tecnologia assistiva, com um resultado de cunho social bastante relevante. Em resumo, queremos apenas melhorar a vida do cidadão”, enfatiza o sócio da Eurekamob.
O jogo pode chegar ao mercado ainda este ano. Para aperfeiçoá-lo, a equipe de desenvolvimento apresentou o produto ao curso de Fisioterapia da Faculdade Maurício de Nassau, em Sergipe. “Queremos recolher as impressões e ter um feedback dos profissionais”, diz Franca. Atualmente, os desenvolvedores cuidam do aperfeiçoamento do Sistema de Acompanhamento da Evolução do Paciente.
Além do apoio da Finep, o projeto contou com o financiamento do Banco do Nordeste e foi contemplado no edital do Programa de Formação de Recursos Humanos em Áreas Estratégicas (RHAE), do CNPq, por meio do qual trouxe mestres e doutores para a equipe.