Pesquisadores da Fiocruz entraram na segunda fase de testes da vacina contra a esquistossomose. A Sm14, como é chamada, é a primeira vacina parasitária produzida com tecnologia brasileira a chegar à fase II de estudos. Essa etapa, que começa neste mês de setembro e deve durar entre dois anos e meio a três anos, é voltada para estudos clínicos e para testar a receptividade de humanos. A expectativa é que a vacina esteja liberada para o consumo até 2020. O estudo tem a Finep como uma das instituições financiadoras.
Nesse segundo momento, os pesquisadores irão ao Senegal, país do oeste da África onde cerca de 90% da população já teve esquistossomose. Lá, eles distribuirão vacinas entre voluntários e cada um receberá três doses com intervalos de um mês entre cada uma delas. O trabalho será realizado com a participação da organização não governamental Espoir Pour La Santé e o Instituto Pasteur de Lille, na França e da empresa brasileira Orygen Biotecnologia S.A.
O projeto começou a ser desenvolvido na década de 1980, quando pesquisadores da Fiocruz conseguiram isolar a proteína Sm14 encontrada no Schistosoma mansoni, parasita causador da doença e verificou-se que um extrato salino do próprio parasita injetado em animais protegia-os da esquistossomose. Como em qualquer outra vacina, a técnica consistiu em utilizar um antígeno - substância que estimula a produção de anticorpos - para fortalecer o sistema imunológico do potencial hospedeiro contra o ataque do parasita. A vacina coloca o nome do Brasil na fronteira da ciência mundial, como a primeira vacina para helmintos (vermes).
A esquistossomose é uma doença atrelada diretamente à falta de saneamento e pobreza, comuns nos países em desenvolvimento. A OMS estima que 200 milhões sejam infectados por ano, principalmente na África e Ásia, e apesar da mortalidade ser baixa, ainda mata milhares de pessoas todos os anos. A esquistossomose compromete a saúde em geral e a capacidade de aprendizado, além de provocar diarreia, dores de cabeça, vômitos e sangramento do sistema digestivo. No Brasil, os focos da doença estão concentrados principalmente nas regiões Nordeste e Centro-Oeste.
Além da Finep, o projeto tem apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), IOC/Fiocruz, Organização Mundial da Saúde (OMS), Orygen Biotecnologia S.A e da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).