O cíclotron é um dos equipamentos utilizados na produção de radiofármacos
Menos de uma década após ter ingressado no seleto grupo de empresas brasileiras pioneiras na fabricação do fluordeoxiglicose (FDG-18) - substância empregada em diagnósticos por imagem para a detecção precoce do câncer - a R2 Soluções em Radiofarmácia Ltda se prepara para lançar, no mercado nacional, quatro novos radiofármacos inovadores. Os novos medicamentos, todos na área de medicina nuclear, serão destinados principalmente ao diagnóstico da doença de Alzheimer, metástase óssea e câncer de próstata. O ambicioso projeto de ampliação do leque de produtos ofertados hoje pela R2 só se tornou possível a partir da instalação de uma nova fábrica da empresa, recém inaugurada no município de Duque de Caxias – primeira planta do setor privado do estado do Rio de Janeiro.
Orçado em R$ 24 milhões, o empreendimento recebeu financiamento de R$ 12,7 milhões da Finep para as atividades realizadas entre 2017 e 2018, e ainda prevê recursos adicionais de R$ 5,5 milhões até o término da execução do plano, que terá agora seus esforços concentrados na entrega dos novos radiofármacos. O restante do investimento – cerca de R$ 6 milhões – será aportado via recursos próprios da empresa. A primeira fase do projeto focou na construção da nova unidade fabril, incluindo laboratórios, e na aquisição, montagem e testes dos equipamentos que viabilizarão a produção do FDG-18 em suas dependências. Sua entrada em operação ampliará a oferta de doses do FDG-18 no Brasil e, principalmente, agilizará o atendimento aos pacientes do Rio de Janeiro e imediações, que hoje dependem do fornecimento diário do produto de outros estados.
“O aumento na produção certamente estimulará hospitais e clínicas brasileiras a adquirirem máquinas adicionais para a realização dos diagnósticos”, afirmou o consultor da R2 e coordenador do projeto, Edson Roman (veja depoimento). Segundo o analista da Finep, Rafael Paganotti, o FDG-18 é o único radiofármaco produzido em alta escala e disponibilizado à população brasileira. “Embora seja bastante assertivo na detecção de vários tipos de câncer, seu espectro de cobertura é falho na detecção de algumas formas específicas da doença, tais como próstata e metástase óssea. Daí a importância da pesquisa e do desenvolvimento de novas moléculas alternativas ao FDG-18 ”, afirma.
A nova fábrica da empresa em Duque de Caxias servirá de base para a produção dos novos radiofármacos, destinados a diagnóstico e teranóstico, que estão sendo desenvolvidos pela R2 em parceria com os pesquisadores do Instituto do Cérebro da PUC-RS (Inscer). Para quem não sabe, o teranóstico, também no campo da medicina nuclear, implica na união do diagnóstico por imagem e da terapia usando a mesma molécula ou moléculas muito similares. Ou seja, ele permite, no momento do exame, a obtenção do diagnóstico, a administração de medicamentos e o monitoramento da resposta ao tratamento. Com foco centrado no cuidado com o paciente, o teranóstico possibilita uma transição da forma convencional de tratamento para uma abordagem contemporânea da medicina personalizada e de precisão.
Ganho na produção
Inaugurada no último dia 13 de abril, a fábrica da R2 em Duque de Caxias encontra-se em estágio pré-operacional, com todos os seus equipamentos centrais instalados, entre eles o cíclotron e módulos de síntese, e com seus laboratórios em fase final de capacitação. A nova planta, em sua plenitude, terá capacidade de produção de 3 a 4 bateladas de 150/200doses por dia, quantidade suficiente para atender a demanda atual e dos próximos anos do Rio de Janeiro pelo FDG-18, e ainda gerar um excedente, capaz de acomodar no futuro o crescimento de mercado que se projeta em torno dos novos radiofármacos, que têm prazo de entrega previsto para os próximos 24 meses. Hoje, o Estado do Rio de Janeiro é o principal mercado consumidor do FDG-18 da R2, com 52% da produção, seguido do Rio Grande do Sul (40%), Santa Catarina (5%) e Paraná (3%).
Até a instalação da nova unidade em Duques de Caxias, a produção do FDG-18 pela R2 ocorria integralmente na fábrica de Porto Alegre, sendo de lá escoada para todos os mercados consumidores. “O novo empreendimento representa um grande passo na geração de conhecimentos em uma frente extremamente complexa da medicina, da engenharia e da física, pois permitirá a entrega de medicamentos que melhorarão a qualidade de tratamento da população brasileira em doenças que hoje apresentam poucas alternativas, como câncer e Alzheimer”, afirma Rodrigo Seccioso, superintendente de Inovação da Finep.
Durante o evento de inauguração da fábrica da R2 em Duque de Caxias, o consultor Edson Roman enalteceu a Finep pela confiança e pela parceria que foram, segundo ele, fundamentais para que a R2 pudesse chegar ao estágio atual, “principalmente porque o apoio se deu em um momento de profunda crise e dificuldade no âmbito nacional”, disse.