Criado pela Finep para financiar o aperfeiçoamento de produtos e processos e o desenvolvimento de novas soluções tecnológicas para o mercado em empresas de menor porte (micros, pequenas e médias), com perfil altamente inovador, o Finep Inovacred é um exemplo de iniciativa bem-sucedida.
Operado de forma descentralizada por 19 parceiros regionais, incluindo agências de fomento e bancos de desenvolvimento estaduais, em seis anos de funcionamento, o Finep Inovacred já investiu R$ 1,5 bilhão em 520 projetos. Cada proposta recebeu em média R$ 1,94 milhão.
Nos últimos dois anos, o Programa, que no seu primeiro ano de funcionamento investiu pouco mais de R$ 30 milhões, ganhou fôlego e projeção, já sendo considerado hoje no Brasil um dos mais atrativos para empresas tomadoras de créditos neste segmento. O custo do financiamento reembolsável pelo programa varia de TJLP a TJLP mais 1% ao ano.
“É importante ressaltar que, em se tratando de uma empresa de menor porte, o acesso a linhas de crédito para inovação no Brasil não é fácil, muito em função da exigência de garantias. Isso faz do Finep Inovacred um instrumento fundamental para viabilizar projetos inovadores neste grupo de empresas”, afirma Newton Hamatsu, superintendente de Inovação da Finep. Para 2019, o Programa deverá ofertar novas linhas de financiamento e aumentar o número e o volume das operações. Segundo Hamatsu, a Finep pretende ainda ampliar a sua rede de parceiros nos Estados.
O Programa Inovacred oferece financiamento a empresas de receita operacional bruta anual ou anualizada de até R$ 90 milhões, para aplicação no desenvolvimento de novos produtos, processos e serviços, ou no aprimoramento dos já existentes, ou ainda em inovação em marketing ou inovação organizacional, visando ampliar a competitividade das empresas no âmbito regional ou nacional.
Esse apoio é concedido de forma descentralizada, por meio de agentes financeiros, que atuam em seus respectivos estados ou regiões, assumindo o risco das operações. Há apoio a projetos inovadores em todas as áreas do conhecimento.
Voo livre
Com valor de financiamento de R$ 1,5 milhão, a catarinense SOL Sports & Paragliders, que ingressou no InovaCred via BADESC, se tornou referência mundial na fabricação de equipamentos para voo livre, alicerçada em preocupação constante com P&D e utilização de tecnologia de ponta. Fundada em 1991, já exporta para mais de 70 países e, com os recursos da Finep, incrementou seu projeto de desenvolvimento e produção de parapentes mais leves e compactos que os mais comuns do mercado. ‘’A tecnologia existe para nos servir e por isso seguimos avançando em desempenho e segurança’’, afirma o fundador da SOL e um sócios, Ary Carlos Pradi.
Pradi conta que, em seu sistema produtivo, mantém relacionamento e parceria com institutos de pesquisa, universidades e entidades de classe. Alguns deles: Indústria Aeronáutica no DTCA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial); órgãos certificadores europeus e alemães (EAPR e DHV); USP (Universidade de São Paulo); UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina); ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial). A companhia já é a que apresenta maior gama de produtos para voo livre do planeta.
No último mês de dezembro, a SOL faturou o Prêmio Destaque em Tecnologia de 2018, conferido pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT). São, ao todo, 125 funcionários, sendo 100 de função técnica alocados na produção, e 25 nos setores administrativos.
O último lançamento da empresa, ocorrido no final de janeiro, foi a versão mais moderna e sofisticada do parapente Prymus 5. O novo Prymus foi apresentado aos adeptos do voo livre na Copa Ícaro 2018, ocorrida na França, maior evento do planeta ligado ao setor.
Desde 2001, este modelo de parapente é a escolha para quem quer iniciar no voo ou para profissionais -regulares que desejam voar com tranquilidade. Mais arqueado, permite uma pilotagem precisa tanto para pilotos chamados ativos, que gostam de usar o corpo, bem como os passivos, que preferem atuar mais nos freios. Esta característica permite um ótimo rendimento nas térmicas fracas e fortes, sempre se mostrando sólido e estável.
O primeiro bi
Mas a empresa que fez o InovaCred atingir seu primeiro bilhão aprovado foi a Mineração São Judas, com sede administrativa no município de Itararé-SP e três unidades industriais localizadas nos municípios de Bom Sucesso do Itararé-SP, Sengés-PR e Ponta Grossa-PR. Ela atua na exploração, industrialização e comércio de minérios industriais, produzindo atualmente cerca de 40 produtos minerais, tais como minérios de talco, calcários, carbonato de cálcio, dentre outros. Foi fundada em 1972, iniciando suas atividades em lavra no ano de 1975. Com soluções específicas para cada um dos seus clientes, tem investido continuamente em projetos de inovação.
Em sua iniciativa mais recente, buscou o apoio do BRDE através do Inovacred para a construção de uma planta-piloto destinada à produção de talco puro. O minério de talco no Paraná apresenta-se misturado com carbonatos, sílica e silicatos. Em vista disso, é necessário um processo de separação para se obter o talco puro para uso nas indústrias de celulose, cerâmica e de resinas plásticas. O talco utilizado nesse segmento industrial precisa de um alto grau de pureza e alvura, sendo atualmente produzido na Bahia ou importado de outros países.
A partir do projeto de inovação, haverá a produção de um produto de alto valor agregado (minérios de talco puros sem sílica, silicatos e carbonatos devidamente alvejados) e com um custo inferior aos concorrentes nacionais e internacionais. A empresa conta, ainda, com a vantagem competitiva de estar localizada em uma região mais próxima às indústrias que demandam esse produto, tanto no Paraná quanto em São Paulo. O projeto para a produção do talco puro está orçado em R$ 6,2 mi, sendo R$ 5 mi financiados pelo programa de crédito descentralizado da Finep e R$ 1,2 mi de contrapartida financeira da empresa.
O fato é que a dinâmica do InovaCred veio provar que a associação com bancos de desenvolvimento estaduais facilita o incremento da inovação com ênfase local, possibilitando capilaridade aos recursos e variedade de projetos. Do fertilizante organomineral produzido pela mineira Valoriza (apoiado com R$ 9,5 mi via BDMG) — que é uma mistura de compostos orgânicos com a complementação de fontes minerais, evitando perdas de nutrientes — passando a uma empresa que é referência em monitoramento digital com inteligência, nada escapa ao radar do programa.
Tempo real
Neste último caso, a Fototerra, de Santana do Parnaíba (SP), alavancou, através da Desenvolve SP, um sistema inovador de monitoramento ambiental do oceano brasileiro, especificamente nas áreas de exploração do petróleo, para atendimento a emergências de vazamento e acidentes ambientais com hidrocarbonetos. A Fototerra utiliza modelo único de monitoramento com câmeras, sistemas de laser aéreo de última geração e até uma aeronave de pequeno porte. A integração de todo esse aparato permite oferecer monitoramento ambiental em tempo real.
“Calcula-se que o vazamento recolhido em até 24 horas gere prejuízos da ordem de milhares de dólar. Quando a demora para tomar medidas de contenção acontece em até 48 horas, os danos são de milhões de dólares. Quando as ações levam a partir de 72 horas, os prejuízos são incalculáveis”, explica Guilherme Brechbuhler de Pinho, CEO da Fototerra. Quando surgiu, em 1993, a companhia oferecia serviços de mapeamento topográfico. De forma simples: uma variedade de mapas de larga escala que se caracterizam pela detalhada representação do relevo. Um exemplo deste tipo de material são os gráficos de rotas observados em sites de pesquisa. Analisando o mercado, os gestores perceberam que se investissem no aprimoramento de seu arcabouço tecnológico, poderiam incrementar a receita da Fototerra a partir de serviços mais qualificados."
“Muitas das empresas de monitoramento, quando avistam uma mancha no oceano, informam o surgimento de algo que ‘pode ser’ óleo. O nosso equipamento consegue mapear, definir a extensão de um dano, calcular o volume deste, definir o tipo de contaminante, e mandar tal informação em tempo real para um centro de emergência”, finaliza Pinho."
Robôs gestores
Outro exemplo de projeto de destaque é o da startup catarinense PWX, especializada em Experiência do Usuário na Gestão de TI, e que recebeu R$ 1 milhão do InovaCred. A empresa desenvolveu um produto que auxilia os gestores de TI a acompanhar se a experiência dos usuários está satisfatória ou não ao acessarem sistemas corporativos. Essa avaliação tem foco na performance e é realizada por robôs de software que simulam usuários de TI e analisam esse desempenho em tempo real.
A PWX foi selecionada para expor seu produto para grandes investidores no Web Summit 2017, um dos maiores eventos mundiais de tecnologia e inovação. O evento reuniu mais de 60 mil participantes de 160 países e mais de mil palestrantes.
“É muito empolgante sermos reconhecidos como uma empresa inovadora diante do complexo mercado mundial. A visibilidade que obtivemos nos permitirá fortalecer parcerias estratégicas com grandes players mundiais”, disse André Matias, CEO e fundador da empresa.