Dina Carrilho, da Fundação de Ciência e Tecnologia (FCT) de Portugal, explicou funcionamento do ERA-MIN 2 (Foto: Joaquim Soares/Finep)
A economia circular surgiu há décadas, mas as discussões sobre a sua implementação são recentes, particularmente no Brasil. O modelo surgiu como contraposição à lógica linear a que a sociedade está acostumada – extrair, transformar e descartar. Para fomentar esse debate, a Finep realizou, no dia 14/3, evento em sua sede, no Rio de Janeiro, que contou com a participação do diretor de Inovação I da empresa, Márcio Girão, além de especialistas no tema, como Aldo Ometto, professor e pesquisador da USP, e Luísa Santiago, líder no Brasil do programa de economia circular da Ellen Macarthur Foundation (CE100 Brasil).
“A economia circular é regenerativa e restaurativa por princípio. Busca-se, em última instância, dissociar o desenvolvimento econômico global do consumo de recursos finitos”, explicou Luísa Santiago, líder do programa CE100 Brasil – Ellen Macarthur Foundation. O conceito de consumo, neste caso, dá lugar ao de utilização.
Santiago listou os três princípios que movem a noção de geração de valor dentro do modelo circular. O primeiro deles é a preservação e o aprimoramento do capital natural – e não sua degeneração. Outro pilar básico é otimizar o rendimento de recursos, fazendo circular produtos, componentes e materiais no mais alto nível de utilidade o tempo todo, tanto no ciclo técnico quanto no biológico. Por fim, o modelo busca estimular a efetividade do sistema, revelando e excluindo as externalidades negativas desde o princípio.
Para Luiz Ricardo Berezowski, gerente da Nat. Genius, Unidade de Negócios de economia circular da Embraco, que também integrou o painel de discussão, o modelo circular é o casamento entre criação de valor, inovação e tecnologia e racionalização de recursos naturais finitos do planeta. Na avaliação da empresa fabricante de compressores herméticos de refrigeração, o Brasil apresenta um terreno fértil para o desenvolvimento desse modelo: além de um mercado consumidor relevante, o País possui um ecossistema industrial integrado e, acima de tudo, uma legislação forte, a exemplo da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Na opinião do professor e pesquisador Aldo Ometto, do departamento de Engenharia de Produção da USP, uma das sete universidades pioneiras em economia circular no mundo, os problemas atuais, no entanto, não serão resolvidos com soluções desenvolvidas no passado. Seguindo esse pensamento, a universidade paulista resolveu difundir o ensino do tema já na graduação. “Precisamos instituir essa mudança de visão desde a base”, salientou Ometto.
Dentro dessa concepção de economia circular, esclareceu o pesquisador, o conceito de sustentabilidade não entra como pré-requisito ou obrigação das empresas, mas, sim, como consequência. “É um benefício gerado pela introdução de um novo modelo de negócios”, relatou Ometto. Em vez de buscar reduzir impactos negativos, é preciso alterar a lógica e buscar impactos positivos. “O mais importante, antes de tudo, é haver uma mudança cultural, tanto nas empresas quantos nos consumidores”, concluiu.
ERA-MIN 2
Antes do painel de debate, Dina Carrilho, coordenadora de projetos europeus na Fundação de Ciência e Tecnologia (FCT), agência pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Portugal, explicou detalhes da chamada conjunta do ERA-MIN 2, um consórcio de 21 organizações de financiamento à pesquisa, desenvolvimento e inovação de 17 países e duas regiões. O programa se concentra na área de matérias-primas minerais e suas fontes secundárias, com enfoque na economia circular.
“As transformações minerais e os novos materiais serão fundamentais para a revolução que está por vir nos próximos dez anos”, ressaltou o diretor de Inovação I da Finep, Márcio Girão, destacando o empenho da financiadora em ampliar suas parcerias internacionais.
O objetivo do ERA-MIN 2 é apoiar financeiramente, por meio de recursos não reembolsáveis, projetos transnacionais de pesquisa e desenvolvimento e inovação, que sejam desenvolvidos em conjunto por empresas e Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs), nos segmentos de matérias-primas metálicas, de construção e minerais industriais (exceto energéticas e agrícolas). O foco destes temas está voltado para o suprimento, produção, consumo, reutilização e reciclagem de matérias-primas de forma sustentável, em uma economia circular.
Como informou Carrilho, a intenção é que sejam apoiadas pesquisas orientadas para necessidades da indústria, embora o programa aceite parcerias academia-academia e empresa-empresa. “O pré-requisito é que cada projeto elegível conte com, no mínimo, instituições de dois países da União Europeia (ou países associados à EU)”, esclareceu a coordenadora.
Esta chamada se dá por co-financiamento, em que cada agência apoia a empresa/instituição de seu respectivo país, de acordo com seus próprios instrumentos de apoio. O orçamento total disponível para o edital é de aproximadamente 15 milhões de euros, correspondentes à soma dos comprometimentos de fundos públicos das organizações financiadoras participantes e do co-financiamento da Comissão Europeia. A Finep disponibilizará 750 mil de euros nesta ação, para ICTs e empresas.
O ERA-MIN 2 é um instrumento ERA-NET Cofund, financiado pela Comissão Europeia durante cinco anos, no âmbito do Desafio Societal 5 do programa comunitário Horizonte 2020. A expectativa é que cerca de 15 projetos sejam financiados.
Mais detalhes podem ser encontrados na página do edital no site da Finep e no endereço oficial da chamada.
Confira abaixo as apresentações feitas durante o evento:
Dina Carrilho (FCT)
Henrique Vasquez (Finep)
Luiz Ricardo Berezowski (Nat. Genius-Embraco)
Luísa Santiago (Ellen Macarthur Foundation)
Aldo Ometto (USP)