Luciano Coutinho, presidente do BNDES (à esquerda), e Luis Fernandes, presidente da Finep (Foto: João Luiz Ribeiro/Finep)
A confiança e o otimismo pautaram o último dia de debates do Seminário Produtivo Inovativo Brasileiro. O lançamento do primeiro edital do Padiq (Programa de Desenvolvimento da Indústria Química), seguido de uma breve palestra do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e o encerramento do presidente da Finep, Luis Fernandes, anfitrião do evento, demonstraram a grande expectativa para um futuro pautado pela inovação no país.
Durante o lançamento da chamada pública, o diretor de Inovação da Finep, Elias Ramos, explicou quais serão as etapas do programa e esclareceu a importância estratégica de uma linha de crédito específica para o setor químico: “atualmente, a indústria química faz compras que superam U$150 bilhões, o que já representa déficit na balança comercial brasileira. Precisamos suprir esta demanda para gerar, além de desenvolvimento na cadeia produtiva, equilíbrio econômico”, diz.
Em sua palestra, o presidente Luciano Coutinho (BNDES) ressaltou que o Padiq chega em um momento delicado para a indústria brasileira e, por isso, tem grande importância: “um programa como este é o tipo de articulação pragmática, onde o setor privado é o ator principal no processo de transformar conhecimento em inovação. Sabemos que sem o incentivo do financiamento público isso não pode ocorrer, daí a importância de programas como este e os outros oito eixos estratégicos do Inova Empresa”, disse o dirigente, citando o plano em parceria com a Finep do qual o Padiq faz parte.
No encerramento do seminário, o presidente Luis Fernandes (Finep) elogiou o programa e também contextualizou seu lançamento com o momento atual do país. Fernandes demonstrou tranquilidade ao falar sobre o ajuste fiscal que o Brasil enfrenta, ressaltando que o seminário vai contribuir com ideias e soluções no tocante à inovação, pesquisa e desenvolvimento: “Encerramos o seminário em tom de confiança e esperança. É simbólico terminar o evento com o lançamento do edital do Padiq. Neste contexto de travessia, temos que continuar dando sinais de que o fomento à inovação e ao desenvolvimento continuam na agenda do país. Precisamos transformar o que debatemos aqui em soluções, projetos e resultados”, afirmou.
Outras três mesas cumpriram a programação do seminário. Temas como política industrial e desenvolvimento territorial e social foram discutidos por grandes nomes da academia e autoridades do atual governo.
Debate político e industrial
A necessidade de se estabelecer uma nova política industrial e a busca de um amplo diálogo entre todos os setores da sociedade para se atingir esse objetivo marcaram as discussões durante a mesa “As Novas e as Velhas Políticas Industriais de Inovação”. O painel, coordenado por Carlos Gadelha, secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), teve a participação dos especialistas Clemente Ganz Lucio (diretor técnico do Departamento Intersindical Estudos Socioeconômico - Dieese), Marcio Porchmann (presidente da Fundação Perseu Abramo) e Fernando Sarti (professor e pesquisador da Unicamp e Altos Estudos Brasil Século XXI). A moderação ficou a cargo do jornalista George Vidor.
“Estamos num momento de superação dialética. Não se trata mais de defender ou atacar o que foi feito, mas definir o que temos que fazer para avançar. Não há mais apenas uma grande e única convergência temática – a visão tem de ser abrangente, que engloba contextos novos. A busca do diálogo, e não um debate de surdos, é o grande desafio para se pensar uma nova política industrial”, afirmou Carlos Gadelha.
Para Clemente Ganz Lucio, é preciso encarar que, nos últimos anos, houve erros do movimento sindical por não ter dado a atenção devida à importância de estabelecimento de nova política industrial: “embarcamos no trem do desenvolvimento imediato e deixamos de engatar um segundo vagão à locomotiva, e hoje há uma lacuna”. Clemente também afirmou que é urgente retomar o debate sobre qual a melhor estratégica para se construírem acordos profundos entre trabalhadores, empresariado e Governo. “Não temos chance política sem alianças dispostas a construir e elaborar estratégias e romper com o atual empobrecimento das discussões”, acrescentou.
Márcio Porchmann falou sobre os ciclos da economia brasileira, com ênfase nos novos rumos, a partir da década de 1980 - o trânsito para o que se convencionou chamar de capitalismo pós-industrial, com o novo foco na economia de serviços. “Desde os anos 80, observa-se uma redução dramática do ciclo industrial brasileiro, iniciado a partir da década de 1930. Hoje, vive-se o capitalismo com dominação financeira”, disse Márcio.
"Não vemos outra forma de se crescer realmente a não ser pelo incremento da indústria”, afirmou Fernado Sarti. O economista lembrou que, apesar da queda da participação industrial no PIB, “o Brasil ainda é o quarto maior empregador industrial formal do mundo, e tem o sétimo parque industrial do planeta. Precisamos integrar efetivamente as políticas já existentes e fazer com que investimentos em infraestrutura revertam em desenvolvimento econômico e social”, afirmou.
Inserção internacional e soluções sociais
Na segunda mesa do dia, "Desenvolvimento Produtivo e Inovativo Brasileiro e Inserção Internacional" foi o tema do debate. A atual conjuntura política e econômica mais uma vez pautou a fala dos painelistas, que destacaram de forma unânime a necessidade uma ampla reforma no Estado brasileiro para o avanço do desenvolvimento via inovação. José Eduardo Cassiolato (UFRJ e Centros de Altos Estudos do Século XXI) afirmou que uma específica característica do país - com a qual muitas nações de ponta não contam - representa um pilar no qual temos de nos basear para retomar o crescimento:
"Estamos bem posicionados no tocante a um modelo sustentável de desenvolvimento. O caminho, com todos os ajustes necessários, passa por aí". Já Celio Hiratuka, da Unicamp, estabeleceu um caminho de recuperação e desenvolvimento calçado em três palavras: "coordenação, seletividade e contrapartida".
De acordo com David Kupfer (UFRJ), as empresas transnacionais estabelecidas no Brasil não são as protagonistas das cadeias globais de valor. "Qualquer forma espontânea de inserção internacional, dada esta característica, não será completa".
Os debatedores identificaram que é necessária a reconfiguração instrumental de nossa política tecnológica. Atento às discussões, o presidente Luis Fernandes pediu a palavra e fez uma ampla defesa do FNDCT (Fundo Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico), principal braço financeiro da Finep.
"A importância do FNDCT historicamente é inquestionável. Ele precisa ser recomposto, bem como seus instrumentos de compartilhamento de risco, e aplicado a partir de uma visão ampla do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia", finalizou.
A última mesa do dia - "Política de Desenvolvimento Social e Territorial" - tratou dos principais desafios brasileiros para unir desenvolvimento e sustentabilidade, além da inclusão social. A presidente do Incra, Lúcia Falcon apresentou alguns dos projetos que fazem parte do Fundo de Desenvolvimento Agrário e mostrou resultados dos programas já executados pelo órgão, como o projeto educacional Pronera, que já possui 183 mil alunos de comunidades rurais formados.
A discussão em torno do desenvolvimento sustentável e fomento à inovação em toda a cadeia territorial e rural pautou o restante do debate, que também contou com a presença do professor Roberto Monte-Mor (Cedeplar-UFMG), do diretor da Agência de Fomento de Goiás e professor da PUC-GO, Sérgio Castro, e do superintendente da área de Projetos Especiais da Finep, Luiz Martins.