Ivan Regina, gerente de Planejamento da EMTU (Foto: João Luiz Ribeiro/Finep)
Em junho deste ano, o Brasil tornou-se o primeiro País da América Latina a possuir uma frota de ônibus movida a células de hidrogênio. O projeto, que representa o ponto de partida para o desenvolvimento de uma solução mais limpa para o transporte público urbano, contou com o apoio da Finep em sua execução. Para debater os resultados alcançados e os desafios futuros da iniciativa, a financiadora realizou, nesta segunda-feira, 31/08, o seminário Ônibus a Célula a Combustível Hidrogênio para Transporte Urbano no Brasil.
Durante o encontro, Laercio de Serqueira, analista do Departamento de Apoio a Sistemas de Inovação da Finep, ressaltou a importância da participação da agência em um empreendimento desta natureza. "Embora o ônibus a hidrogênio ainda seja economicamente inviável enquanto modelo de negócio, precisamos estar sempre pensando à frente", destacou Serqueira.
O Projeto Ônibus Brasileiro a Hidrogênio consistiu na aquisição, operação e manutenção de quatro ônibus com célula a combustível a hidrogênio. A proposta incluiu também a construção de uma estação de produção da substância para o abastecimento dos veículos. Além de não emitir poluentes, este tipo de ônibus ainda devolve vapor d’água para a atmosfera, deixando o ar mais limpo, em um ciclo ambientalmente perfeito.
Para Ivan Regina, gerente de Planejamento da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU), a iniciativa conseguiu nacionalizar diversos componentes desses veículos – cerca de 60% deles são nacionais. "Introduzimos uma tecnologia de tração inovadora no Brasil. Outro ponto positivo foi o menor custo de produção que alcançamos em comparação aos ônibus similares que são feitos em outros países", frisou Regina, acrescentando que a empresa trabalha com a meta, para o futuro, de uma frota de 20 ônibus a hidrogênio, capazes de transportar 1 bilhão de pessoas em 15 anos. Atualmente, apenas a Alemanha, os Estados Unidos e o Canadá dominam essa tecnologia.
De acordo com Ivan, já existe um acordo com o Governo de São Paulo para reduzir a poluição de 100 para 30% até 2022: “Os operadores terão que fazer essa redução progressivamente”. Segundo ele, a EMTU firmou recentemente convênios com a Universidade de São Paulo (USP) para quantificar os malefícios da poluição ambiental por meio do Instituto de Astronomia e Geofísica da universidade. “Já o Instituto de Medicina irá medir os índices que afetam a saúde pública”, concluiu.
André Queiroz, da BR Petrobras, falou sobre a estação de produção e abastecimento de hidrogênio instalada em São Bernardo do Campo (SP), a primeira da América do Sul. “O Brasil tem a oportunidade de ser protagonista”, disse. A estação, que está em fase de testes, terá uma operação livre de emissões de gás carbônico, segura e não poluente. "As partículas de combustíveis como o diesel vão direto para os pulmões e são tão nocivas que afetam até mesmo os insetos. Além de tecnologia, estamos investindo na saúde pública", acrescentou Queiroz.
Lançado em 2006, o Projeto começou a ser idealizado no início da década de 1990, quando o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Global Environment Facility (GEF) criaram um programa de apoio à comercialização de ônibus urbanos movidos à célula hidrogênio em países em desenvolvimento. De acordo com Rose Diegues, analista do PNUD, iniciativas dessa magnitude demandam tempo. “Não estamos construindo produtos já comercializados, mas, sim, desenvolvendo tecnologia”, enfatizou.
Apesar dos avanços, como a nacionalização de tecnologia e a transferência de conhecimento para a indústria brasileira, a iniciativa esbarrou numa série de obstáculos. Os realizadores do projeto queixaram-se, principalmente, da falta de parceria com a academia, do excesso de burocracia e do arranjo institucional complexo do empreendimento. Além disso, o Ônibus Brasileiro a Hidrogênio ainda precisa superar seu principal desafio: tornar-se economicamente viável. "Esse investimento tem que ser transformado em negócio para todas as empresas participantes e beneficiar a população brasileira como um todo. Estamos revendo a planilha de custos para torná-lo, de fato, um produto economicamente viável", afirmou Eduardo Silva, um dos sócios da Tutto Transporti.
Composição do projeto
O Projeto Ônibus Brasileiro a Hidrogênio foi coordenado pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU/SP) e dirigido pelo Ministério das Minas e Energia (MME). A iniciativa contou com duas fontes principais de recursos: US$ 12,3 milhões do Global Environment Facility (GEF), aplicados por meio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), e R$ 8,4 milhões da Finep.
O projeto e a fabricação dos ônibus foram desenvolvidos por um consórcio formado, inicialmente, por oito empresas nacionais e internacionais: AES Eletropaulo, Ballard Power Systems, Epri, Hydrogenics, Marcopolo, Nucellsys, Petrobras Distribuidora e Tutto Trasporti.