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Funcionário da empresa sediada em Toledo (PR): qualidade superior à dos similares importados

Negócio promissor em países como o Canadá, a produção de remédios a partir de variedades das plantas do genêro Cannabis começa a fazer parte da estratégia dos laboratórios brasileiros. O paranaense Prati-Donaduzzi, fabricante de genéricos baseado na cidade de Toledo, se prepara para lançar em 2019 o medicamento Myalo, voltado para o tratamento da epilepsia refratária, doença em que os portadores não respondem às drogas tradicionais — estima-se que o mal atinja cerca de 700 000 brasileiros. O fármaco, cujo princípio ativo é o canabidiol, foi desenvolvido em parceria com a Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto e entra agora na fase final de testes, depois de receber um aporte financeiro de R$ 180 milhões da Finep — Financiadora de Inovação e Pesquisa. O medicamento, sem similares nacionais e muito superior a variantes importadas hoje usadas no país, tem alto grau de pureza, com concentração de canabidiol equivalente a 99,5%.

Há outras vantagens. O produto brasileiro passa por um rigorosíssimo controle de qualidade e possui baixo índice de THC, o composto químico que provoca efeitos psicotrópicos e pode intoxicar os pacientes. Segundo o diretor-presidente da Prati-Donaduzzi, Eder Fernando Maffissoni, os produtos contendo canabidiol disponíveis hoje para tratamento são vendidos em seus países de origem como suplemento alimentar, não passando por todos os testes exigidos para um medicamento, como o teste de controle de qualidade.

“Para se ter uma ideia, um portador de epilepsia refratária pode apresentar até 70 crises em um único dia, podendo haver agravamento neurológico em decorrência das crises convulsivas”, explica Maffissoni. “Desenvolvemos um produto de elevada pureza, que garante a segurança dos pacientes que vão utilizá-lo. Além disso, cumpre todos os requisitos de excelência e grau de qualidade farmacêutico”.

Ainda em parceria com a equipe da USP de Ribeirão Preto, que estuda o uso terapêutico do canabidiol há mais de 30 anos, a Prati-Donaduzzi pesquisa, com o apoio da Finep, o desenvolvimento de uma fórmula utilizando canabidiol sintético, que possa substituir o uso da planta na obtenção do medicamento. Neste caso, a ideia é produzir uma nova fórmula para ser utilizada no tratamento de outras doenças. A opção sintética é uma prioridade na área da saúde, já que abrangeria um número maior de consumidores.

A Prati Donaduzzi já realizou a síntese do canabidiol sintético em seu parque fabril e os estudos estão na fase dos ensaios pré-clínicos, com previsão de conclusão em cerca de três anos. “Nosso foco é promover o acesso a este produto para quem precisa. No Brasil, são poucas as pessoas que tem condições de pagar pelo tratamento”, afirma o diretor-presidente da Prati, que desenvolveu a formulação do Myalo e tem patente depositada no Brasil e em mais 12 países, incluindo EUA, China, Japão e alguns países na Europa.

A Prati- Donaduzzi é a primeira empresa brasileira a participar do programa Finep Conecta, destinado a apoiar projetos cooperativos envolvendo empresas e Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs). Recentemente, foram assinados com o grupo dois contratos de financiamento. Um deles dará sequência aos estudos para obtenção do canabidiol com alto grau de pureza, possibilitando a condução dos ensaios necessários para registro do medicamento. O projeto receberá recursos no total de R$ 20 milhões do Finep-Conecta, nova linha de crédito que opera com taxas de juros menores e prazos e carências mais longos. Esses recursos serão repassados à Faculdade de Medicina da USP-Ribeirão Preto, parceira do projeto.

O segundo contrato com a Finep, no montante de R$ 161 milhões, vai fazer frente ao programa estratégico da Prati, que prevê a continuidade de linhas de pesquisa voltadas para a fabricação de genéricos não disponíveis no mercado, de medicamentos com inovação incremental, de insumos farmoquímicos, além de suplementos funcionais. Desde 2007, a Finep tem apoiado a Prati-Donaduzzi em seus projetos de pesquisa. Ao todo, foram cerca de R$ 80 milhões concedidos nos últimos anos e que ajudaram a fortalecer a infraestrutura de pesquisa e desenvolvimento da empresa, que ingressou fortemente no mercado de genéricos, com a oferta de produtos até então não disponíveis no mercado brasileiro.

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Canabidiol vendido no exterior: categoria de suplementos alimentares

Em 2013, a Finep investiu R$ 70 milhões no desenvolvimento de 20 medicamentos cujas patentes haviam acabado de expirar ou estavam próximas disso. O projeto foi além das expectativas iniciais da Prati, tendo alcançado mais de 50 desenvolvimentos, incluindo medicamentos que tiveram seu ciclo de testes concluídos. A empresa conseguiu, ainda, abrir novas frentes de desenvolvimento tecnológico, nos segmentos de insumos farmoquímicos, produtos com inovação incremental e de suplementos funcionais. A parceria com a Faculdade de Medicina da USP, que resultou na doação, pela Prati, de um Centro de pesquisas exclusivas com canabinóides, a ser inaugurado em agosto deste ano, já é considerada caso de sucesso na área de projetos cooperativos entre ICTs e empresas. O novo Centro, que também recebeu apoio da Finep em contrato anterior com a Prati, será o primeiro prédio do mundo com esta finalidade.

A história da Prati-Donaduzzi começou com a união do casal Luiz e Carmen Donaduzzi que, após formarem-se em Farmácia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), foram para a França onde concluíram mestrado e doutorado em Biotecnologia pelo Instituto Politécnico de Lorraine, em Nancy. No final da década de 80 retornaram ao Brasil e se instalaram em Recife, Pernambuco, onde iniciaram o empreendimento de produção e comercialização de chás e medicamentos simples. Em meados de 1993, em uma visita aos familiares no Paraná, surgiu a oportunidade de instalar a indústria, visto que o Governo do Estado ofertava apoio através do Programa Bom Emprego. Após conhecer algumas cidades, receberam uma proposta da Prefeitura de Toledo e optaram por ficar no município. Juntaram-se então aos sócios Arno Donaduzzi e Celso Prati e iniciaram as atividades de implantação da fábrica e produção dos primeiros lotes de medicamentos.

A Prati-Donaduzzi é umas das empresas nacionais que teve um crescimento acelerado nas últimas duas décadas com a identificação de oportunidades no mercado de medicamentos genéricos. Prestes a completar 25 anos, possui atualmente mais de 41 mil clientes entre a linha farma e hospitalar, espalhados por todo o território nacional e detém o título de maior fornecedora de medicamentos genéricos para o Governo. Também é considerada a maior produtora nacional neste segmento com uma fabricação anual de 12 bilhões de doses terapêuticas.