Seu navegador no suporta java script, alguns recursos estarão limitados. Lançamento de livro reúne autoridades em Ciência, Tecnologia e Inovação para debate do futuro na área
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Obra foi escrita por Fernanda De Negri, que também participou da discussão


Realizado nesta terça-feira, 13 de julho, o evento de lançamento do livro “Novos caminhos para a inovação no Brasil”, da autora Fernanda De Negri - produzido pela Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (INTERFARMA) em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e o Wilson Center Brazil Institute – foi plano de fundo para discussão sobre os desafios que impactam a área de Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil.

Já na abertura o presidente Marcos Cintra propôs “profunda reflexão nacional com grupos de interesse para debater com clareza o futuro da área de C, T&I para o Brasil, principalmente em um período pré-eleitoral, onde é salutar conhecer a proposição dos candidatos sobre temas relevantes como este”.

A complexidade do assunto permeou todo o debate e levantou pontos importantes. Paulo Sotero que dirige o Brazil Institute, Woodrow Wilson International Center for Scholars tem se dedicado à expansão das relações entre os dois países, recebendo parlamentares brasileiros numa troca de experiências, que contribuam para o entendimento da importância do papel de cada um no avanço de C, T&I como agente propulsor do desenvolvimento brasileiro.

O presidente executivo da INTERFARMA, Pedro Bernardo, foi na mesma linha. Também apontou gargalos importantes, destacando o “ambiente hostil em que vivemos para alcançar a inovação”. Lembrou que na década de 1950 o Brasil liderava a produção dos antibióticos e que nos anos 1990 chegou a ter 133 mil pesquisadores atuantes. Em contrapartida a China e os EUA têm hoje 1,4 milhão de pesquisadores nas indústrias enquanto o Brasil toma o caminho inverso. Apontou a enorme dificuldade de fazer pesquisa no País destacando como um dos maiores impeditivos a tributação, que chega a 30% e incide sobre o novo e isentando os produtos já comercializados.

Na primeira mesa redonda, cujo tema era “O ecossistema brasileiro de inovação”, a autora, junto com o presidente da Finep, Marcos Cintra, o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, e o Diretor do Centro Brasileiro de Pesquisa Físicas (CPBF), Ronald Shellard, debateu sobre soluções para os principais gargalos que impedem o desenvolvimento da área no país.

De Negri trouxe para a discussão pontos apresentados em seu livro, sobre fatores que devem ser considerados ao pensar mudanças estruturais que equiparem a C, T&I brasileira com outros países, como qualificação de mão de obra especializada, adequação de infraestrutura para a realização de pesquisas de alto nível e remoção dos entraves no ambiente da produção científica, além de mudanças nas politicas públicas de subsídio.

“É preciso ampliar investimento em infraestrutura de pesquisa, planejamento a longo prazo, infraestruturas abertas e multiusuários. É preciso também estimular a internalização e a diversidade na mão de obra. A ciência brasileira é pouco conectada com o mundo, com as redes de produção de conhecimento”, defendeu Fernanda, que é também especialista do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA).

Mas como resolver os impasses no futuro? O presidente Marcos Cintra está convencido de que o diagnóstico é consensual e que a política de C,T&I é incompleta. “Avançamos muito na geração de conhecimento, mas o mesmo não acontece na inovação que é um tema etéreo”. Para ele a questão não está no rol das preocupações do povo, por conseguinte não está nas prioridades da classe política. Lembrou que há três anos a Finep dispunha de R$ 600 milhões para a subvenção, números que caíram vertiginosamente para R$ 30 milhões este ano. Ele critica a sobreposição de atividades e propõe a criação de um órgão de assessoramento ligado à Presidência da República para coordenar e dar coesão às políticas de inovação.

No debate a que se seguiu o painel, Luiz Davidovich, Presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) lamentou o baixo índice de escolaridade do brasileiro, destacando que metade do Brasil não conclui o ensino médio e só 17% concluem o ensino superior. Alertou que na China, 35% dos graduados são engenheiros, enquanto no Brasil só 1/3 deles trabalha na sua área de conhecimento. Destacou que aqui só 15% dos pesquisadores têm mestrado e doutorado, contra os 39% da Coréia, dos quais 6% são doutores e 33%, mestres. E concluiu: falta ênfase no empreendedorismo. Em Harvard a meta é induzir os alunos a fazerem empresas, no Brasil o foco é formá-los para trabalharem em empresas.

Na mesa sobre Políticas para inovação e produtividade, David Kupfer, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi um ponto destoante. “Temos um quadro desafiador, precisamos parar de andar em círculos, fazer balanços e enterrar a atual fase da política de inovação”. E concorda com o presidente Cintra que esta política está incompleta. Para ele, não há estoque de conhecimento e o que o Brasil precisa é de dinamismo inovativo, uma das tarefas mais difíceis no momento atual.

Somando a isso, há um gasto ineficaz, porque os investimentos do Brasil não estão tão distantes dos outros países. Essa, pelo menos, é a avaliação de Paulo Figueiredo, professor da FGV. Está seguro de que a inovação não necessariamente depende de ciência. Às vezes depende mais de engenharia, de um sistema organizado, de equipamentos e de um banco de dados que aponte onde estamos e para onde caminhamos. É importante também se expor ao mercado internacional como fez a Índia, principalmente no setor de biotecnologia, onde começou copiando e hoje domina o setor de testes clínicos em parceria com empresa como a Merck.

O encerramento coube ao gerente do Departamento de Estudos e Pesquisas (DEPE), Luiz Martins de Melo, que identifica o ponto de inflexão do sistema com o presidente da Finep, José Pelúcio, ainda no início dos anos 1970. Foi uma época de grandes transformações, com destaque para a Embraer, Petrobras e a própria Vale, depois privatizada. De lá para cá, o modelo se esgotou, porque o Brasil se atrasou e a infraestrutura industrial e científica construída das décadas de 1970-1980 já não atende aos desafios atuais. É preciso ter consciência de que falta uma estratégia de inovação que privilegie a articulação entre os atores do sistema permitindo a criação de novos mercados e que não se detenha em consertar as falhas existentes. Isso já pode ser visto com a tendência da predominância de chamada Industria 4.0, que aumenta a produtividade mas pode levar a um grande desemprego. E concluiu: o certo é que inovação está diretamente ligada às infraestruturas de telecomunicações, transportes e energia que são grandes indutoras do desenvolvimento social e econômico.