Seu navegador no suporta java script, alguns recursos estarão limitados. 2º dia de Seminário Internacional Finep-ABC discute desafios para aproximar academia e mercado
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Da esquerda para a direita: Nivio Ziviani (UFMG/Kunumi), Berthier Ribeiro-Neto (UFMG/Google) e Edmundo Albuquerque de Souza e Silva (Coppe-UFRJ)

 

O segundo dia do Seminário Internacional de Promoção, Desenvolvimento, Apoio e Avaliação da Inovação, promovido pela Finep e pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), no dia 29 de agosto, no Rio de Janeiro, trouxe à mesa de discussão a experiência de pesquisadores brasileiros que fugiram da trajetória convencional: criaram tecnologias na academia, empreenderam e levaram o conhecimento do campus ao mercado. “Cerca de 80% dos doutores brasileiros estão na universidade. Precisamos de mais professores empreendedores”, convocou Berthier Ribeiro-Neto, que divide seu tempo entre a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a direção de Engenharia do Centro de Pesquisa & Desenvolvimento da Google na América Latina.

O engenheiro mineiro é um dos fundadores da Akwan, buscador comprado pela Google em 2005. “Enquanto acadêmicos, tínhamos uma vantagem competitiva: estávamos no limiar do conhecimento. A Google não queria nosso negócio, mas nossa equipe”, contou Berthier, que hoje comanda 120 engenheiros em um dos mais importantes centro da gigante da internet fora dos Estados Unidos. “Tirar a tecnologia do campus é uma aventura complicada, mas possível”, completou.

Nivio Ziviani conhece bem o desafio. O cientista da computação e professor da UFMG transita pelos dois universos há 20 anos. Diferentemente da maioria dos docentes brasileiros, é um empreendedor nato: está à frente de sua quarta empresa, a Kunumi. “É preciso aproximar cada vez mais esses dos ambientes. Hoje coordeno estudantes que, a partir de seus trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses, também resolvem problemas concretos do mercado”, ressaltou Ziviani.

Para Edmundo Albuquerque de Souza e Silva, professor da Coppe/UFRJ, é recompensador ver o entusiasmo dos alunos não só ao redigir papers, mas também ao ver um produto ou tecnologia criados por eles trazendo benefícios para a sociedade. “Precisamos preparar o estudante desde o inicio da graduação para empreender. Mentoria, suporte local da universidade e advogados são imprescindíveis no processo de construção de uma startup”, destacou.

Se as experiências são variadas, pelo menos um obstáculo é comum a esses acadêmicos que tentam conciliar vida universitária e mercado: a burocracia. Neste sentido, o Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação (Lei 13.243/2016), sancionado no início de 2016, poderia contribuir para a aproximação entre a academia e o setor privado. “A ABC e a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), duas das principais entidades do setor, têm se manifestado a favor do documento há anos, mas a discussão não avança”, queixou-se o presidente da ABC, Luiz Davidovich. O texto ainda aguarda regulamentação. Entre outros pontos, prevê que professores em regime de dedicação integral desenvolvam pesquisas dentro de empresas e que laboratórios universitários sejam usados pela indústria para o desenvolvimento de novas tecnologias.

Avaliação de impacto da inovação

O evento ainda contou com debates técnicos sobre os mecanismos de avaliação do impacto da inovação. Carlos Henrique Brito Cruz, diretor científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), apresentou experiências da agência paulista, uma das mais importantes do país, que tem direito a receber o repasse de, no mínimo, 1% da receita tributária do Estado de São Paulo.

“Há uma pressão crescente em todo o mundo sobre a avaliação do impacto da inovação. A crise fiscal torna o tema ainda mais importante no Brasil”, afirmou Brito Cruz. Segundo ele, a Fapesp considera três dimensões de impacto quando avalia programas e projetos de inovação: social, econômica e intelectual. “Procuramos apoiar ações que tragam benefícios em mais de um desses aspectos”, explicou o diretor, completando que a agência já avaliou sete programas de pesquisa próprios. “Por meio da avaliação, tiramos conclusões que nos ajudam a redirecionar programas. Ao criar um programa de apoio à inovação, é preciso definir de forma clara os objetivos, e não apensa as intenções”, acrescentou.

Gustavo Crespi, da Divisão de Competição e Inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), mostrou que a avaliação de impacto é útil para melhorar políticas de desenvolvimento. A cultura de mensuração também ajuda a promover transparência e responsabilidade na medida em que analisa a eficiência de recursos públicos. Para ele, a questão principal em qualquer avaliação é comparar resultados de quem foi beneficiado por um programa de inovação e quem não foi.

Além de Brito Cruz e Crespi, a segunda mesa do seminário contou com a mediação de José Roberto Boisson de Marca, professor da Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro (PUC-Rio), e a participação de Guru Parulkar, diretor executivo do Open Networking Foundation e professor da Universidade de Stanford, cuja palestra foi feita via Skype (Parulkar não conseguiu embarcar para o Brasil devido ao Furacão Harvey). Ele compartilhou um pouco da experiência singular do Vale do Silício e a dificuldade em replicar o modelo em outros locais. “O ecossistema da região foi construído há mais de quatro décadas. Transformar inovação em impacto demanda esforço e tempo: a inovação leva 10-15 anos para amadurecer”, resumiu o professor, que contribuiu para o desenvolvimento startups norte-americanas.

Confira aqui o primeiro dia do seminário.