Além do anúncio de três editais no valor de R$ 460 milhões para fomentar a inovação na Amazônia, agência teve agenda intensa em discussões sobre os desafios climáticos
A Finep abriu sua participação na COP 30, no dia 11/11, durante a cerimônia de inauguração da Casa da Ciência do MCTI, instalada no Museu Paraense Emílio Goeldi, com o anúncio de R$ 460 milhões em novos investimentos programas como o Pró-Amazônia 2025, com R$ 150 milhões para infraestrutura científica na região; o Programa de Acervos Científicos e Culturais, com R$ 250 milhões para preservação do patrimônio histórico e científico; e o Edital de Fundos de Investimento em Bioeconomia e Sustentabilidade (FIPs), com R$ 60 milhões para empresas inovadoras comprometidas com o uso sustentável da biodiversidade.
O presidente da Finep, Luiz Antonio Elias, destacou a importância da ciência e da Amazônia como eixos estruturantes para o enfrentamento das mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável. “A Finep atua como agente catalisador da ciência aplicada, fortalecendo a bioeconomia e a inovação como pilares da sustentabilidade”, afirmou. Ele também destacou o descontingenciamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que garantirá R$ 22 bilhões para novos investimentos nos próximos anos, e reforçou a integração da Finep com universidades, governos e outras instituições de fomento.
A ministra Luciana Santos ressaltou que a Casa da Ciência representa a união entre conhecimento, cultura e diversidade e destacou as novas medidas anunciadas: “É o Estado brasileiro investindo no futuro, transformando o conhecimento em desenvolvimento verde e inclusivo”, disse.
Lançamento da obra “Mudanças Climáticas no Brasil”
Na noite de 11/11, a Finep participou do lançamento do livro “Mudanças Climáticas no Brasil: estado da arte e fronteiras do conhecimento”, publicado pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), sob o MCTI, no Museu das Amazônias.
A obra é resultado de uma ampla colaboração entre instituições de pesquisa brasileiras com reflexões sobre os desafios e soluções para o enfrentamento das mudanças climáticas sob uma perspectiva científica e integrada.
De acordo com Luiz Antonio Elias, que é um dos autores, o objetivo é que o livro seja o ponto de partida para novas proposições de políticas e estimule o diálogo contínuo entre cientistas, gestores e a sociedade nos próximos anos. A ministra Luciana Santos ressaltou, na ocasião, a necessidade de integrar o conhecimento científico à gestão pública.
Agricultura sustentável
Como parte da intensa agenda da Finep na COP 30, o presidente Luiz Antonio Elias e a assessora da Finep Ima Vieira estiveram, no dia 11/11, na abertura da AgriZone, espaço da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) na conferência internacional. A iniciativa deu visibilidade a soluções tecnológicas e inovadoras voltadas à agricultura sustentável e ao enfrentamento das mudanças climáticas, reforçando o papel da ciência e da inovação no desenvolvimento sustentável.
Avanço tecnológico e financiamento verde
O painel “Contribuições da Comunidade Científica e Tecnológica da Amazônia para a Agenda de Ação do Brasil”, organizado pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS) em 12/11, no Museu das Amazônias, como parte do Mutirão Global liderado pela Presidência da COP30, também contou com a Finep.
O objetivo foi avançar na conversão do conhecimento científico e tecnológico da região em soluções concretas voltadas à implementação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) do Brasil (2025-2035) e dos compromissos assumidos no Acordo de Paris. As discussões tiveram como base mais de 79 instituições de ensino superior, ciência e tecnologia apresentaram propostas alinhadas à Agenda de Ação.
O presidente da Finep frisou que “a ciência amazônica, apoiada por recursos adequados e integrada aos saberes locais, representa um diferencial estratégico para o Brasil e para o planeta”.
Inovação escalável da bioindústria
Também no dia 12/11, a Finep integrou outros dois painéis que reuniram especialistas, gestores públicos e representantes de organismos internacionais para debater soluções de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. A financiadora foi representada pelo superintendente da Área de Transição Energética e Infraestrutura da Finep, Newton Hamatsu.
O painel “Implementation through Innovation: Scaling Technologies for a Resilient Planet”, promovido pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), na Blue Zone da conferência, abordou o papel da inovação tecnológica como ferramenta para impulsionar a resiliência climática e o desenvolvimento sustentável.
Hamatsu destacou que a agenda climática ocupa posição central na atuação da Finep. Desde 2023, a financiadora já destinou mais de R$ 12 bilhões a projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação voltados à mitigação de emissões e à transição energética — cerca de 27% de seus investimentos no período, um salto expressivo em relação ao ciclo anterior, cujo montante havia sido de R$ 1,9 bilhão. Entre os temas prioritários estão a descarbonização do transporte, os combustíveis sustentáveis, a geração e o armazenamento de energia, a bioeconomia e a economia circular.
No painel “Financiamento da Bioindústria: Mecanismos Inovadores para Acelerar a Transição Sustentável”, promovido pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), na Green Zone da COP30, Hamatsu apresentou as ações da Finep voltadas ao fortalecimento da bioindústria e da inovação na região amazônica, com investimentos que ultrapassam R$ 700 milhões desde 2023, em projetos de instituições de pesquisa, startups e empresas de diferentes portes.
Universidades inovadoras
O superintendente Newton Hamatsu esteve em um painel sobre “Universidades Inovadoras – Conectando Universidades e Empresas para a Transformação Ecológica, no dia 15/11, no Pavilhão Brasil (Sumaúma), na Blue Zone. Foram apresentados o Programa Universidades Inovadoras e Sustentáveis e a Chamada Acelera NIT (Núcleos de Inovação Tecnológica das universidades federais), do Ministério da Educação, detalhando metas e mecanismos para superar as barreiras históricas entre a pesquisa acadêmica e o setor produtivo.
O evento discutiu de que maneira integrar os institutos de Ciência e Tecnologia empresas pode ser o caminho para colocar a universidade no centro da transformação ecológica e impulsionar uma economia inovadora e de baixo carbono.
Restauração da Amazônia
Na segunda semana da COP 30, a pesquisadora do Museu Goeldi e assessora da presidência da Finep, Ima Vieira, fez um alerta durante sua palestra “Bioeconomies of Sociobiodiversity in Tropical Countries”, em 17/11, no Pavilhão da Ciência Planetária, localizado na Blue Zone: “Não podemos repetir na restauração da Amazônia os mesmos modelos que contribuíram para sua destruição”.
Segundo Ima, projetos baseados em produção em larga escala, foco exclusivo em carbono e tecnologias impostas de cima para baixo ignoram quem vive na floresta e geram resultados já conhecidos: mais degradação, conflitos e poucos beneficiados.
A pesquisadora acredita na restauração das relações, dos modos de vida e das economias que mantêm a floresta viva há gerações. Para isso, defende que as comunidades precisam participar das decisões, ser beneficiadas pelas políticas públicas e ter seus conhecimentos respeitados.
Bioeconomia e neoindustrialização
O gerente da Finep, Henrique Vasquez, moderou uma mesa-redonda na Casa da Ciência, em 18/11, sobre a a bioeconomia como impulsionadora da neoindustrialização e da transformação ecológica da economia brasileira. A proposta foi discutir caminhos para um modelo de desenvolvimento sustentável baseado no uso responsável da biodiversidade.
Vasquez salientou que a nova política industrial brasileira prevê a bioeconomia como um dos pilares para reposicionar o país globalmente, agregando valor a produtos da sociobiodiversidade e estimulando o desenvolvimento de tecnologias limpas, cadeias produtivas inovadoras e novos modelos de negócio baseados no uso sustentável dos recursos naturais.
O gerente também chamou a atenção para a capacidade singular da bioeconomia de reduzir desigualdades regionais, especialmente porque suas cadeias produtivas começam nos territórios que concentram os maiores desafios socioeconômicos do país. “Quando povos originários, ribeirinhos, quilombolas e comunidades tradicionais são incluídos de forma justa nas cadeias de conhecimento e produção, geramos renda, fortalecemos culturas locais e asseguramos a conservação dos ecossistemas”, explicou.
Descarbonização
O painel “Descarbonização – Desafios de P&D+I e de Financiamento para as diversas cadeias industriais”, realizado em 19/11 no estande da Confederação Nacional da Indústria (CNI na Blue Zone, teve a participação de Rodrigo de Lima e Henrique Vasquez, gerentes da instituição. O foco principal da agenda foi identificar e propor soluções para os gargalos em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P&D+I) e as lacunas no financiamento de tecnologias ambientais.
Outro compromisso do dia que contou com Lima e Vasquez, representando a Finep, foi uma roda de conversa sobre cooperação nacional e internacional técnico-financeira em Ciência, Tecnologia, Inovação e Formação de Recursos. O encontro ocorreu no Pavilhão da Associação de Universidades Amazônicas (Unamaz), na Green Zone. Entre os projetos discutidos, estavam alguns já apoiados na Finep e outros com potencial de se beneficiarem dos instrumentos de financiamento já disponíveis atualmente.
Lima destacou que a atuação da Finep visa o desenvolvimento do conhecimento, sua aplicação industrial e escalabilidade. Indicou também que a Finep planeja intensificar esforços e recursos financeiros em tecnologias de alto potencial de descarbonização nos próximos anos unindo indústria, universidades e comunidades.
A Finep tem implementado mecanismos de fomento que minimizam o risco para a indústria, como subvenções econômicas em recursos não reembolsáveis (subvenção) para financiar projetos de P&D de alto risco tecnológico, incentivando ativamente as parcerias diretas entre universidades e empresas, transformando ideias em protótipos industriais. Em outra frente, também oferece crédito de longo prazo com taxas subsidiadas para compra e escalonamento de tecnologias inovadoras pelo setor industrial.
Com esses mecanismos, a Finep tem apoiado desde a otimização de projetos industriais com baixa emissão de carbono até o financiamento de startups que desenvolvem novos catalisadores e insumos para biocombustíveis avançados, garantindo que o impacto seja real e mensurável na redução de gases de efeito estufa.






