Seu navegador no suporta java script, alguns recursos estarão limitados. Governo e comunidade científica articulam propostas estratégicas para a COP-30 em encontro organizado pela Finep
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 aberturawrokshopcop30Mesa de abertura. Fotos: Lucas Landau

 

Consolidar diretrizes que posicionem a ciência brasileira como indutora de soluções climáticas transformadoras. Esse é o objetivo de mais de 100 cientistas, pesquisadores, autoridades, que se reúnem nesta sexta-feira, 3/10, no Workshop de Integração e Fortalecimento da Ciência da Agenda Climática, promovido pela Finep, Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI), Academia Brasileira de Ciências (ABC) e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Do evento, resultará um documento com propostas que serão levadas à COP-30, em Belém, no mês de novembro. Veja completo aqui. Fotos aqui.

Para o presidente da Finep, Luiz Antonio Elias, o documento a ser elaborado no workshop será estratégico para ações do governo brasileiro e, incluído nos debates da COP-30, poderá posicionar a ciência brasileira como pilar fundamental para o enfrentamento da crise climática. “O Brasil tem ciência de qualidade, diversidade de ecossistemas, matriz energética limpa, capacidade de inovação e, cada vez mais, compromisso político com a sustentabilidade. Podemos e devemos ser protagonistas globais na construção de um futuro sustentável, próspero e justo”, afirmou.

“Este workshop é um ponto de convergência. Aqui esperamos mapear temas prioritários, identificar lacunas e desenhar proposições que dialoguem com os compromissos internacionais e com as demandas nacionais”, disse a Ministra da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, em vídeo, na abertura do evento.

Também em vídeo, a diretora-executiva da COP-30, Ana Toni, reforçou que, na conferência mundial, a ciência irá nortear a responsabilidade dos líderes globais em relação à mudança do clima. “Será a COP da verdade e a verdade é baseada na ciência. Na COP 30, vamos elevar ao máximo grau o papel da ciência como orientadora do que será deliberado”.

A mesa de abertura do workshop contou, ainda, com as participações da Secretária de Políticas e Programas Estratégicos do MCTI, Andrea Latgé; da presidente da ABC, Helena Nader; da presidente da SBPC, Francilene Garcia; do presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ricardo Galvão; da presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Denise Carvalho; e do Superintendente da Área de Meio Ambiente do BNDES, Nabil Kadri, que participou virtualmente. Os especialistas reforçaram a importância de se ter o conhecimento científico como base orientadora para a formulação de políticas públicas.

No painel seguinte, o tema era “O contexto nacional: políticas climáticas, ciência, tecnologia e ação”, coordenado por Francilene Garcia da SBPC. Andrea Latgé, secretária de políticas e programas estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, falou do impacto de CT&I na agenda climática, com ênfase nas ações da pasta em que atua. Disse que a missão do MCTI é avançar na fronteira do conhecimento. “A ideia é oferecer também ao governo a importância das entregas internacionais e colaborar com outros ministérios, como o do Meio Ambiente”.

Sinalizou, ainda, que o MCTI lidera estudos que, definitivamente, subsidiam a agenda climática brasileira, além de alertar sobre desastres geohidrológicos e atualizar as capacidades de previsão de clima e tempo. “Programas de ponta, plataformas de mapeamento são nossa rotina e radar”, completou.

Já Carlos Nobre, pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP - um dos maiores nomes cientistas especializados em clima do planeta - disse que até 2050 teremos aquecimento de cerca de 2,5 graus se não reduzirmos emissões, o que seria trágico para o planeta.

“A COP-30 tem de ser a mais importante de todas. Temos de zerar as emissões líquidas até 2040, como bem disse o presidente Lula”. E ampliou: “Já há estudo que aponta que o Brasil tem todas as condições para zerar as emissões em 15 anos”. Ele disse ainda que a queima de combustíveis fósseis é o que gera poluição urbana, que é responsável por milhões de mortes por ano. “Precisamos acabar com isso imediatamente, mas é algo não dito de modo convencional. Preocupa o fato de Amazônia já estar próxima do ponto de não-retorno. O sudeste da floresta virou fonte de carbono”.

Nobre celebrou a Parceria da USP com o Cemaden Educação para fazer um sistema educacional voltado ao combate da emergência climática: redução de emissão e adaptação a eventos extremos.

 

carlosnobrecop30Carlos Nobre (USP). Foto: Lucas Landau

 

“A comunidade científica está respondendo bem às demandas ligadas à agenda climática”, afirmou Ricardo Galvão, também integrante da mesa. “Há um envolvimento natural ligado à emergência climática. O professor e dirigente disse que há uma necessidade de mecanismos para projetos de maior fôlego.

Ele trouxe dado que aponta que as universidades públicas respondem por 95% da produção científica brasileira. “No entanto, universidades até muito próximas trabalham sobre mesmos temas, com quase nenhuma articulação”, alertou.

Fernando Rizzo, diretor-presidente do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE), apontou alguns avanços no financiamento para CT&I e articulação entre instituições, mas lamentou hiatos e descontinuidade de recursos com visão estratégica. “Alguns institutos de Pesquisa de fora... O orçamento apenas um deles pode ser todo o orçamento nosso. A questão de continuidade de apoio também é vital”.

Rizzo também apresentou as principais lacunas de informação e indicadores: 1) ausência de métricas integradas. Indicadores ligados a artigos, patentes, mas não a impacto em vida real; 2) Baixa padronização de dados climáticos, agrícolas e energéticos; 3) Monitoramento fragmentado; 4) Lacunas territoriais; e 5) Indicadores de justiça climática.

De acordo com ele, “para superar o descolamento de entre dados científicos e políticas públicas, é necessário um sistema de métricas integradas, como dados como indicadores de vulnerabilidade territorial e justiça climática como dimensão obrigatória”.

Já de acordo com Aloisio Lopes de Melo, Secretário Nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, dada a urgência, a ação climática não é mais uma opção para os governos, mas parte da realidade. Ele enfatizou que o Brasil precisa liderar e mostrar como é capaz de atuar para que o mundo encontre caminhos para enfrentar a emergência climática, com monitoramento, tecnologia, geração de informação para mitigações.

"Isso tem que fazer parte da forma de pensar a política pública, da forma de operar o Estado como gerador de inovação, produtor de boas práticas, indutor de processos e consumidor de bens e serviços. Isso precisa permear a ação pública e, por isso, é tão fundamental ter espaços como a Semana de Inovação, para refletir sobre esses temas e chegar à COP 30 com mais elementos”, disse.

E finalizou: “ser neutro em gases poluentes até 2050 é nossa missão e o investimento em estratégias, integração e respostas para o planeta não pode esperar. A política pública precisa funcionar e cada instituição deve responder ao seu papel”.

No painel “O Brasil no Cenário Internacional: Compromissos e Acordos Climáticos”, Thelma Krug, assessora científica das Nações Unidas para a COP 30, frisou a importância do conhecimento dos povos indígenas e povos locais da Amazônia para o desenvolvimento de políticas públicas relacionadas à descarbonização. “Não é uma ciência escrita, mas acredito que a COP 30 será uma oportunidade para inserir esse conhecimento com maior protagonismo para mitigação e adaptação à mudança do clima. Este conhecimento vem sendo negligenciado ao longo dos anos”, comentou.

Segundo Krug, dentre as principais dificuldades para o Brasil cumprir as metas climáticas estabelecidas no Acordo de Paris e pelo Protocolo de Kioto, estão a redução do desmatamento e o incremento de 6% das emissões de metano do país, além de dificuldades metodológicas, de mensuração e o uso de tecnologias adequadas. “Cada país adota modelos próprios. Não existe modelo comum para todos os países que permita uma comparação e chegarmos à meta de aquecimento de 1,5ºC até 2050. O setor agro, por exemplo, reclama muito que não estamos utilizando parâmetros de emissão apropriados”, pontuou.

Em relação às emissões de metano, Krug lembrou que o Brasil se comprometeu, em 2021, a reduzir em 30% das emissões. “Hoje, nossas emissões subiram 6%, segundo Observatório do Clima.” Ela chamou atenção também sobre o desafio climático futuro de lidar com a extração de minérios nas terras raras.

Oswaldo Moraes, secretário do SEPPE do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, destacou que o Brasil pode fazer todo o esforço do mundo para reduzir as emissões, mas, se os outros países não fizerem o esforço, não adianta nada, porque isso também afeta o clima no Brasil. “Todos os países têm que trabalhar juntos”, defendeu o secretário.

Lilian Chagas, diretora do Departamento de Clima do Itamaraty, ressaltou o “aumento de grupos e governos que questionam a ciência em relação à mudança do clima, o que é muito preocupante”. Segundo a diplomata, um dos grandes desafios da ciência e dos governos, atualmente, é uma comunicação mais eficaz com a população sobre a importância de novos hábitos de consumo para sensibilizar e ampliar a conscientização das pessoas sobre os perigos iminentes do aquecimento global.

(Ver cobertura das mesas da tarde)